Título: Cenário econômico apóia a expansão dos bancos
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2007, Finanças, p. C3

Os bancos brasileiros vão continuar crescendo em 2008, favorecidos pela expansão do crédito, embalada pelo crescimento econômico, e por uma queda menor da taxa de juros. A previsão é de relatório divulgado ontem pela agência de avaliação de risco Fitch Ratings.

Segundo a Fitch, a maior parte dos bancos projeta uma expansão de 20% do crédito em 2008, ligeiramente abaixo do desempenho de 2007 quando as carteiras registraram crescimento de 25,5% até setembro, atingindo R$ 1,1 trilhão, se forem incluídos avais e fianças.

A Fitch observa que a expansão econômica pode diminuir um pouco em comparação com 2007, mas deverá continuar próxima à média regional, projetada para cerca de 4%.

As perspectivas para os bancos brasileiros também foram beneficiadas pelo fato de terem saído relativamente ilesos à turbulência internacional causada pela crise das hipotecas de alto risco (subprime), ao menos até agora. De acordo com a analista da Fitch, Maria Rita Gonçalves, o volume de captação externa dos bancos brasileiros continua relativamente baixo e o mercado doméstico tem sido boa fonte de recursos. Alguns bancos grandes registraram queda dos resultados de tesouraria, mas mas estas atividades "se tornaram fontes marginais de resultados", em face da expansão do crédito.

Mas há desafios a serem enfrentados, entre os quais a analista incluiu a conquista de clientes ainda não bancarizados, a manutenção da boa qualidade das carteiras, o controle dos custos do crédito e a expansão das fontes de captação.

Dados do Banco Central (BC) consolidados pela Fitch mostram que os ativos totais do sistema bancário cresceram 23% em 2007 até setembro, para R$ 2,438 trilhões. O patrimônio líquido cresceu 21% no mesmo período para R$ 232,8 bilhões. O lucro líquido acumulado em nove meses foi de R$ 40,4 bilhões, praticamente a soma total do lucro em 2006, que foi de R$ 41,5 bilhões.

A expansão do crédito de 25,5%, notou a agência, foi puxada por empréstimos de varejo e para pequenas empresas.

O aumento do crédito e a mudança no mix da carteira protegeu as margens dos bancos da queda dos juros. Embora as margens estejam sendo pressionadas, continuam amplas.

Os resultados dos bancos também foram beneficiados por ganhos não recorrentes, que responderam por quase 12,3% do lucro líquido dos grandes bancos. A venda da participação na Serasa gerou mais de R$ 1 bilhão no segundo trimestre; a abertura de capital da Redecard rendeu mais de R$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre; a da Bovespa, R$ 1 bilhão em novembro.

Os lucros foram absorvidos em boa parte pelo aumento das reservas para passivos contingentes, basicamente provisão referentes a planos econômicos.

Os bancos ampliaram as operações de varejo sustentados na geração de negócios das redes de agências e parcerias desenvolvidas com montadoras de veículos, lojas de varejo de grande e médio porte, supermercados e entidades governamentais (no caso do crédito consignado com desconto em folha de pagamento).

No final de setembro, os dez maiores bancos por patrimônio respondiam por 77% do total de ativos do sistema, 80% dos depósitos e 70% do patrimônio. Só os três federais Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil respondem por 41% dos ativos, 49% dos depósitos e 37% do patrimônio dos dez maiores bancos brasileiros.

A consolidação continuará fazendo parte da dinâmica do sistema. Em setembro, os estrangeiros respondiam por 19% dos ativos dos dez maiores bancos do Brasil e 21% dos ativos, números ainda baixos em relação a outros países da região. A Fitch acredita que o apetite internacional pelo sistema financeiro brasileiro deverá continuar, no médio prazo.