Título: Equipe econômica diz a Lula que país pode crescer entre 4,5% e 5% este ano
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2008, Brasil, p. A2

Para Henrique Meirelles, país crescerá 4,5%: "O Banco Central sempre trabalha com um quadro mais conservador" Numa reunião convocada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para informar-se da conjuntura econômica nacional e internacional, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, previu que, mesmo sofrendo os efeitos de uma desaceleração ou de uma recessão nos Estados Unidos, o Brasil deverá crescer 4,5% em 2008. Este é, segundo exposição feita por Meirelles, o cenário "mais conservador" para 2008.

Na mesma reunião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, projetou crescimento maior - de 5% -, apostando na repetição, em 2008, do desempenho de 2007, quando a economia brasileira pode ter crescido, segundo estimativa da equipe econômica, 5,2% ou 5,3%. O presidente do BC disse a Lula que sua previsão não é incompatível com a de Mantega. Ela apenas reflete um cenário mais difícil para a economia mundial, com reflexos sobre o Brasil em 2008.

"O BC sempre trabalha com um quadro mais conservador", ponderou Meirelles durante o encontro no Palácio do Planalto, que durou mais de duas horas e teve também a participação do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Mesmo estando pessoalmente otimista quanto ao desempenho da economia mundial neste ano, o presidente do Banco Central deixou claro que uma crise nos EUA, seja ela uma desaceleração da economia ou uma recessão, afetará o Brasil, apesar de o país estar neste momento, em sua avaliação, muito mais preparado para enfrentar turbulências internacionais do que esteve no passado. Apesar de a demanda interna estar sustentando em grande parte a expansão da economia, Meirelles acredita que não há como o país escapar totalmente de problemas lá fora.

Meirelles, segundo apurou o Valor, fez uma detalhada apresentação ao presidente Lula sobre o estado da economia brasileira neste momento. Mostrou dados sobre consumo, crédito, investimentos, emprego. Além disso, expôs a situação do agronegócio e da indústria. Não falou sobre juros, mas chamou a atenção para a preocupação do BC com a recente alta da inflação.

Lula quer evitar sobressaltos na economia. Na reunião, ele avaliou que o ambiente de negócios no país está "bom" e que, por isso, é preciso cautela no governo na hora de tomar decisões. O nível de confiança da iniciativa privada é grande e por isso, observou, as empresas estão investindo. O presidente disse que é preciso manter o consumo em alta, mas vigiando a inflação. "O investimento vai continuar crescendo se tiver demanda", teria afirmado Lula, segundo revelou uma fonte.

"O presidente tem falado muito em inflação", diz um auxiliar de Lula. Sua preocupação é que o Banco Central combata o aumento dos preços e, ao mesmo tempo, permita à economia continuar crescendo no ritmo atual. Isso explica, segundo um assessor, o temor do presidente com as medidas a serem adotadas para compensar o fim da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Lula explicou, na reunião de ontem, que não gostaria de negligenciar a necessidade de uma resposta efetiva ao fim da CPMF nem passar aos agentes econômicos a idéia de um "baita arrocho fiscal", capaz de "desanimar" o setor privado. No encontro, o presidente do Banco Central considerou "equilibradas" as medidas anunciadas até agora - aumento de tributos (IOF e CSLL) e previsão de corte de R$ 20 bilhões no Orçamento de 2008.

O presidente aproveitou para determinar ao ministro do Planejamento que, em 15 dias, apresente proposta de combate ao desperdício e melhora da qualidade do gasto público. Paulo Bernardo disse a Lula que vem trabalhando há alguns meses com sua equipe na elaboração de um programa nessa direção. O presidente julga que chegou o momento de implementar o plano.

Lula decidiu convocar a reunião com os titulares da equipe econômica porque, nos próximos dias, vai tirar um período de férias. Segundo um assessor, não quis deixar Brasília antes de se informar sobre a real situação da economia.