Título: China vende mais eletrodomésticos à Argentina
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2007, Brasil, p. A2

O governo argentino renovou a restrição às importações de TVs fabricadas na Zona Franca de Manaus. Enquanto isso, a China já ultrapassa o Brasil como principal fornecedor de eletrodomésticos para a Argentina, como revela estudo da IES Consultores.

Através de resolução publicada no Diário Oficial de segunda-feira, dia 31, o Ministério da Economia da Argentina prorrogou a salvaguarda contra a entrada de TVs produzidas em Manaus até 30 de setembro de 2008, porém aumentou a cota de aparelhos de 100 mil para 170 mil no período. A salvaguarda está em vigor desde 2005 e visa proteger a indústria local, centralizada na Zona Franca da Terra do Fogo, no extremo Sul do país.

A Associação de Fábricas Argentinas de Produtos de Eletrônica (Afarte) tentava um acordo com os brasileiros para restrição voluntária de exportações, disse ao Valor o presidente da entidade, Alejandro Mayoral, em novembro. Mayoral, que ontem não estava disponível para entrevistas, havia dito que os argentinos preferiam um acordo, mas como as negociações não avançavam, pediram ao governo, em setembro, a renovação da medida que vencia em 31 de dezembro.

A salvaguarda contra a importação de TVs de Manaus foi aberta por resolução do Ministério da Economia da Argentina em fevereiro de 2005. Previa restrição por unidades, estabelecendo cota de 100 mil aparelhos, que correspondia a 10% das importações do produto naquele ano e metade da participação dos brasileiros em 2004.

Um estudo recém concluído pela IES Consultores, com dados de janeiro a novembro de 2007, revela que a China ultrapassou o Brasil como fornecedor de eletrodomésticos na Argentina. As importações argentinas de equipamentos das linhas branca e marrom - incluindo fogões, geladeiras, máquinas de lavar roupa e louças, TVs, DVDs -, cresceram 38,4% nos primeiros 11 meses de 2007, comparado a igual período de 2006, atingindo US$ 846 milhões. Desse total, 34,1% vieram da China e 32,9% do Brasil. Nos primeiros 11 meses de 2006, a participação do Brasil foi de 38,9% e a da China, de 30,8% .

"É realmente preocupante o avanço da China no mercado argentino", disse Alejandro Ovando, diretor da IES. Segundo ele, outro país que está despontando como forte concorrente da indústria de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, não só do Brasil mas também da indústria local, é o México. De acordo com a IES, os fabricantes mexicanos saíram de menos de 1% de participação nas importações argentinas em 2005 para 3,4% em 2006 e 5,6% em 2007.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento do Brasil, Welber Barral, procurou reduzir a importância da renovação da salvaguarda argentina contra aparelhos de TV. Ele disse que o Brasil pode pedir uma revisão à comissão de monitoramento do comércio, que vai se reunir, em fevereiro, em Buenos Aires. "Podemos requerer aumento da cota, redução do prazo ou melhores condições de transição". Barral disse que o governo ainda não recebeu a comunicação oficial, mas afirmou que medidas de defesa comercial são "naturais". (colaborou Arnaldo Galvão, de Brasília)