Título: Ritmo de 2008 divide economistas
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2008, Especial, p. A12

A possibilidade de a economia brasileira crescer 5% ou mais ao longo deste ano divide os economistas brasileiros. O professor Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), está no time dos cautelosos, acreditando que um pequeno esfriamento da atividade econômica em 2008 seria bem-vindo. Para ele, há sinais de "recrudescimento da inflação", num momento em que a economia avança a um ritmo superior ao do crescimento potencial - aquele que não provoca pressões inflacionárias relevantes -, estimado por Pessôa em 4,5%.

O economista Caio Prates, do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é mais otimista quanto à capacidade de a economia brasileira crescer a um ritmo mais acelerado este ano. Ele prevê uma expansão de 5,4% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2007 e também em 2008, num cenário de massa salarial em alta, crédito abundante e juros em tendência de queda. Prates ressalta também que a "herança estatística" que 2007 deixa para este ano é bastante favorável: se o crescimento no ano passado tiver sido mesmo de 5,4%, o país crescerá 2,3% em 2008 mesmo se não houver expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao nível de dezembro.

Pessôa, por sua vez, acredita que o crescimento ficará na casa de 4,5%. Isso lhe parece uma boa notícia, por avaliar que a inflação em alta mostra que há um aquecimento excessivo da demanda. "Seria oportuno esfriar um pouco a demanda para que houvesse tempo de os investimentos maturarem."

Para Prates, o país tem de enfrentar alguns desafios importantes - como a necessidade de que o investimento continue a crescer bem acima do PIB e melhoras na infra-estrutura - para avançar a 5% ou mais por vários anos seguidos. Nenhum deles, porém, deve ser suficiente para impedir que o PIB ande nesse ritmo em 2008, sem elevar demais a inflação. Ele não vê sinais preocupantes no front da inflação, mesmo com o nível de utilização de capacidade instalada em patamares recordes, e não vê a necessidade de elevações dos juros. Os preços industriais no atacado, diz Prates, continuam comportados.

Para Pessôa, uma alta da taxa Selic pode ser necessária, caso os índices de preços se mostrem mais pressionados. "O que deve ser feito com a Selic o próprio regime de metas de inflação dirá."

A seguir, os principais trechos das duas entrevistas.