Título: Câmbio tem maior superávit desde 82
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2008, Finanças, p. C1

O mercado de câmbio teve um superávit de US$ 87,454 bilhões em 2007, o mais alto já registrado na série estatística divulgada pelo Banco Central, que começa em 1982. A maior parte do saldo, US$ 76,746 bilhões, veio do fluxo positivo de comércio exterior.

O mercado de câmbio registra superávit quando pessoas físicas ou empresas, como exportadores e turistas, vendem mais dólares aos bancos do que compram. Quando ocorrem superávits, os dólares são absorvidos pelos próprios bancos ou pelo BC.

O superávit de 2007 equivale a mais do dobro do ocorrido no ano anterior, quando foi registrado um saldo de US$ 37,270 bilhões. O Brasil vem registrando superávits crescentes no mercado de câmbio desde 2003. Para 2008, porém, a previsão do BC é um superávit bem menor, de US$ 25,2 bilhões.

Dois fatores contribuíram para o aumento do superávit em 2007. Um deles foi um desempenho mais favorável no segmento comercial, que inclui as operações de exportação e importação. Outro são os dólares do segmento financeiro, que registrou o primeiro superávit desde 2000.

O superávit no segmento de câmbio comercial subiu de US$ 57,598 bilhões para US$ 76,746 bilhões entre 2006 e 2007. O saldo aumentou a despeito de, em 2007, o superávit da balança comercial física (ou seja, os embarques e desembarques efetivos de mercadorias) ter encolhido, passando de US$ 46 bilhões para US$ 40 bilhões. Exportadores fizeram operações financeiras antecipando receitas futuras de exportação, como Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACCs).

Os exportadores venderam US$ 184,764 bilhões aos bancos em 2007, bem acima dos US$ 144,376 bilhões de 2006. As vendas de dólares pelos exportadores superam as exportações registradas na balança comercial física em 2007, que chegaram a US$ 160,650 bilhões. Uma boa parte dos dólares vendidos pelos exportadores, US$ 46,169 bilhões, está vinculada a contratos de ACCs. Outros US$ 45,285 bilhões estão vinculados a operações de pagamento antecipado de exportações. Parte dos exportadores está antecipando receitas de exportações para aplicar os recursos no mercado financeiro doméstico, que oferece altos juros, relativamente aos padrões internacionais.

O segmento de câmbio financeiro (no qual são registrados os movimentos capitais, como investimentos diretos, e os serviços, como turismo internacional e remessas de lucros) teve superávit de US$ 10,708 bilhões. É a primeira vez em sete anos que o Brasil registra superávit financeiro no câmbio.

Depois que o Brasil liberalizou sua conta de capitais, em 1992, até 1998, o país registrou período de superávits financeiros sistemáticos, ligados aos fluxos de capitais estrangeiros ao país, sob a forma de empréstimos e investimentos diretos. As crises do apagão elétrico de 2001 e das eleições presidenciais de 2002 obrigaram o Brasil a fazer um ajuste externo. Entre 2001 e 2006 a regra foi déficits no segmento de câmbio financeiro, em parte provocados pelas amortizações da dívida externa.

No ano passado, o segmento de câmbio financeiro registrou uma virada de US$ 31,036 bilhões, indo de um déficit de US$ 20,328 bilhões em 2006 para um superávit de US$ 10,780 bilhões em 2007. Os dados do movimento de câmbio divulgados ontem pelo BC não discriminam a origem exata do superávit financeiro de 2007. Mas informações do balanço de pagamentos de novembro apontam que, até aquele mês, investimentos diretos e em portfólio tiveram papel importante. Os investimentos diretos subiram de US$ 18,8 bilhões para US$ US$ 33,7 bilhões, na comparação entre os períodos de janeiro a novembro de 2006 e de 2007. Os investimentos em portfólio aumentaram de US$ 13,2 bilhões para US$ 31 bilhões.

Em 2007, o grosso do superávit ficou com o BC, que adquiriu US$ 78 bilhões por meio de seus leilões de compra de moeda estrangeira. Os dólares adquiridos no mercado de câmbio ajudaram a reforçar as reservas internacionais, que cresceram de US$ 85,839 bilhões para US$ 180,334 bilhões durante o ano. Outros fatores, como a remuneração das reservas aplicadas no exterior, também contribuíram no incremento das reservas.

Os bancos ficaram com US$ 9,3 bilhões do superávit do mercado de câmbio. Em 2006, o conjunto de bancos tinha uma posição vendida em moeda estrangeira de US$ 2,019 bilhões e, em 2007, registrou uma posição comprada de US$ 7,332 bilhões.

O BC projeta um superávit menor no mercado de câmbio em 2007, de US$ 25,2 bilhões, devido ao ritmo mais forte da atividade econômica, que tende a aumentar importações, e de um menor aquecimento da economia mundial, que deverá levar a uma expansão um pouco mais moderada das exportações.