Título: Alta de preços ajuda Brasil, mas superávit cai pela primeira vez desde 1998
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2008, Brasil, p. A4

O bom desempenho das exportações no final do ano passado, impulsionado pelos aumentos das cotações internacionais de produtos básicos e semimanufaturados, surpreendeu o governo e os analistas de comércio exterior. Em 2007, as vendas externas chegaram a US$ 160,65 bilhões, e superaram a última meta oficial, de US$ 157 bilhões. Com a valorização do real incentivando as importações - elas atingiram a marca de US$ 120,61 bilhões no ano passado -, o saldo comercial brasileiro caiu pela primeira vez desde 1998, e chegou a US$ 40,04 bilhões.

A maior variação, em 2007, foi das importações. As compras acumuladas no ano foram 32% maiores do que as de 2006. No ano passado, as exportações cresceram 16,6% e o saldo comercial caiu 13,8%. Pela média diária, as vendas externas de básicos elevaram-se 27,6%, as dos semimanufaturados cresceram 11,2% e os embarques de manufaturados foram 11,4% maiores em valor. As importações de bens de consumo, pelo mesmo critério, aumentaram 33,2% em 2007, contra elevações de 32,4% de bens de capital, 31,6% de combustíveis e lubrificantes e 30,7% de matérias primas e intermediários.

Segundo o governo, no período janeiro-novembro de 2007, a elevação dos preços das exportações foi de 9,8% e o aumento das quantidades embarcadas foi de 6,5%.

Os principais países de destino das exportações, em 2007, foram Estados Unidos (US$ 25,3 bilhões), Argentina (US$ 14,4 bilhões), China (US$ 10,7 bilhões), Holanda (US$ 8,8 bilhões) e Alemanha (US$ 7,2 bilhões). No ano passado, os maiores fornecedores para o Brasil foram Estados Unidos (US$ 18,9 bilhões), China (US$ 12,6 bilhões), Argentina (US$ 10,4 bilhões), Alemanha (US$ 8,7 bilhões) e Nigéria (US$ 5,3 bilhões).

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, afirmou que será recebida, em março, uma missão comercial da China. Disse que o governo brasileiro quer aproveitar a oportunidade para dar mais equilíbrio a essa relação comercial, procurando eliminar barreiras, principalmente sanitárias. Ele informou que nas importações de produtos chineses, "ao contrário do que muitos pensam", predominam bens de capital e insumos.

Barral também procurou reduzir a importância do pequeno aumento (1,8%) das exportações para o mercado americano em 2007. Preferiu dizer que, mesmo com o impacto da valorização do real frente ao dólar e da crise financeira daquele país no ano passado, as vendas foram maiores que as de 2006 e o Brasil tem diversificado o destino das suas exportações, o que, na sua opinião, é "saudável".

O secretário argumentou que o câmbio não é o maior problema da balança comercial brasileira. Na sua visão, a competitividade e os gargalos da logística são mais preocupantes. Ele ponderou que muitos setores aproveitam a valorização do real para renovar seus parques produtivos, importando máquinas, equipamentos e insumos. Mas reconheceu que os setores com mais custos em real perdem mais. "Mesmo com um aumento de 30,7% na importação de bens de capital, a produção nacional cresceu 19%", afirmou.

Na interpretação de Barral, o Brasil ainda tem muito espaço para elevar importações e exportações. Pelo seu argumento, a participação das importações no PIB é de aproximadamente 10%, o que revela baixo grau de abertura e é muito inferior a de outros emergentes. Ele citou os exemplos de Argentina (16%), China (30%) e África do Sul (30%).

A meta de exportações para 2008 é de US$ 172 bilhões, mas o secretário revelou ontem que ela deve ser elevada em fevereiro. Isso porque o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio fizeram previsões acima de 5% para o aumento do comércio internacional neste ano. Como o objetivo do governo é fazer com que o ritmo de aumento das exportações seja o dobro do mundial, ainda depende de informações do setor privado para definir se a meta será elevada para US$ 176 bilhões.

Os maiores aumentos nas receitas das exportações, em 2007, foram na categoria dos produtos básicos. Os destaques, segundo o governo, foram para o milho em grão (317,2% em relação a 2006), carne de frango (43,7%), fumo em folhas (28,9%), petróleo em bruto (28,7%), farelo de soja (21,8%), soja em grão (18%), minério de ferro (17,5%), carne suína (17%) e café em grão (14,9%).

Nos semimanufaturados, os maiores crescimentos em valor de exportações foram para ferro-ligas (74,7%), celulose (21%), couros e peles (16,3%) e ferro fundido (13,6%).

Nos manufaturados, as maiores elevações de receitas nas vendas externas foram obtidas no comércio de gasolina (52,7%), suco de laranja congelado (47,3%), aviões (45%), motores e geradores (28%), bombas e compressores (14,5%), polímeros plásticos (12,2%), veículos de carga (9,5%) e autopeças (7,5%).