Título: Governo define setor elétrico para acomodar PMDB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2008, Política, p. A5

O ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, (PTB-PE) anunciou que quer adiantar ao máximo a divisão de cargos na administração pública federal e, para isso, vai se reunir no início da próxima semana com os líderes da base aliada, especialmente o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). A intenção é quitar o maior número de pendências possível, antes do início das atividades parlamentares, em fevereiro, para, assim, evitar mágoas e divisões na base de apoio no Congresso. O governo reconheceu, após a derrota da CPMF no Senado, que precisa melhor a articulação política com os partidos da coalizão.

A principal tarefa caberá ao presidente Lula: confirmar ou não a indicação do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para o cargo de ministro de Minas e Energia. No PMDB, partido ao qual cabe a indicação, o nome de Lobão é dado praticamente como certo e conta com o aval de José Sarney (PMDB -AP). Consultado sobre o tema, Múcio desconversa, afirmando que a decisão cabe ao presidente Lula. Durante café da manhã, no final do ano passado, com os setoristas que cobrem Planalto, Lula foi ainda mais evasivo: "eu não conversei sobre isso com ninguém, não sei como essas coisas saem na imprensa", disse o presidente.

Dias antes, Lula havia se reunido com a cúpula do PMDB no Senado e avisado que, no início de janeiro, a situação do setor elétrico seria resolvida. Além da principal cadeira, estão indefinidas também as seguintes indicações: presidência da Eletrobrás (ocupada pelo petista Valter Cardeal e pleiteada pelo pemedebista Flávio Decat); presidência da Eletronorte, (ocupada por Carlos Nascimento e para o a qual deputado Jader Barbalho (PA) já indicou os nomes de Luiz Otávio e José Priante) e Diretoria Internacional da Petrobras (pleiteada para Jorge Zelada, atual gerente geral de engenharia da estatal).

O governo cansou de esperar a definição em relação a Silas Rondeau. Afastado durante as investigações da Operação Navalha, Lula sempre ficou em dúvida se teria ou não tomado a decisão correta ao afastar o ex-ministro de Minas e Energia. A simpatia de Lula por Rondeau cresceu após a conclusão do inquérito da Polícia Federal, que, segundo palavras do próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, não apontou nada contra Rondeau.

Mas o Planalto prefere não arriscar, pois o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza ainda não apresentou sua denúncia ao Supremo Tribunal Federal. Em novembro, em plenas negociações para aprovação da CPMF, Antonio Fernando denunciou ao STF o então ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, por envolvimento com o mensalão mineiro. Nos últimos meses do ano, cresceu o temor de que Rondeau tenha o mesmo destino de seu ex-colega de Esplanada.

Os articuladores políticos sabem que é preciso nomear logo os cargos que ainda estão pendentes para não aumentar a rebelião na base aliada. Sem uma maioria confiável no Senado, o governo desistiu de encaminhar emendas constitucionais sem ampla negociação com a oposição. A disputa por cargos já provocou alguns sustos e contratempos ao governo: na Câmara, onde a base é ampla, a PEC da CPMF ficou meses parada na CCJ à espera da indicação de Luiz Paulo Conde para a presidência de Furnas. No Senado, a MP que criava um ministério para Mangabeira Unger foi derrotada após um "susto" pregado pelo PMDB. O governo acabou sendo obrigado a criar, por decreto, uma Secretaria para empregar o ex-professor de Harvard.

Múcio, que antes de ser ministro era líder do governo na Câmara, reconhece que ainda existem "muitos cargos em disputa, sem consenso, com nós a serem desatados". Como fez em relação à liberação de emendas, Múcio sempre defendeu que as nomeações deveriam ser feitas com antecedência, para evitar a imagem de "barganha" em troca de votos.