Título: Confrontos com Justiça e Assembléia marcam mandato de Requião
Autor: Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2008, Política, p. A6

Carla Romero / Valor - 9/6/2005 Requião: às dificuldades do governador se somarão a de derrotar Beto Richa em sua tentativa de se reeleger prefeito No primeiro ano de seu terceiro mandato como governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB) manteve o discurso duro contra os adversários e também enfrentou ataques da oposição. Como nos anos anteriores, manteve a reunião semanal com sua equipe no Museu Oscar Niemeyer, que é transmitida pela televisão estatal Paraná Educativa. Nela as ações do governo foram apresentadas, mas críticas à imprensa e ao Ministério Público foram assuntos recorrentes em 2007.

O encontro foi batizado de "Escola de Governo", mas para o líder da oposição na Assembléia Legislativa, deputado Valdir Rossoni (PSDB), é a "escolinha do desaforo". "Todo o veneno do governo é destilado lá", diz o tucano. Segundo ele, Requião começou o mandato "mais irritado", pelo fato de ter vencido a eleição por pouco, com 50,1% dos votos.

Requião foi procurado pelo Valor diversas vezes, por meio da assessoria de imprensa, mas não deu entrevista. Defensor da extinta CPMF, amigo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e adepto da "Carta de Puebla" (de opção preferencial pelos pobres), o peemedebista teve de recuar recentemente de um pacote de aumento de impostos (IPVA, taxas do Detran e de herança), porque corria o risco de ser derrotado pelos deputados, embora normalmente conte com o apoio da maioria. Em dezembro, também viu, pelo quinto ano consecutivo, as concessionárias de rodovias que atuam no Paraná vencerem na justiça e reajustarem os pedágios em média em 4,13%, apesar de o governo não ter autorizado o aumento.

No início do mesmo mês, julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), de agravo regimental contra multa imposta ao Estado pelo não pagamento de títulos do então banco estatal Banestado (atual Itaú), foi interrompido. Após seis votos contra o recurso do Paraná, o ministro Marco Aurélio pediu vista dos autos. Mas o governo paranaense saiu vitorioso logo depois, quando o Senado aprovou resolução que suspende a multa mensal de R$ 5 milhões que a União cobrava do Estado e, com isso, a ação que estava no STF deixa de existir. Na ocasião, Requião comentou que espera que União respeite a decisão do Senado e devolva cerca de R$ 200 milhões já retidos pela Secretaria do Tesouro Nacional Para 2008, o governador sancionou Lei Orçamentária aprovada por unanimidade pela Assembléia Legislativa.

Serão R$ 19,9 bilhões, que incluem os orçamentos do Estado (R$ 17,4 bilhões), autarquias e fundos (R$ 1,3 bilhão) e empresas públicas como a Copel e a Sanepar (R$ 1,2 bilhão). Educação e Saúde terão 30% e 12%, respectivamente, das receitas, mas o tucano Rossoni afirma que as promessas de campanha não estão sendo cumpridas. "Falavam em 24 novos hospitais, e nenhum foi inaugurado até agora". Segundo projeções do governo, a composição das despesas para 2008 será distribuída entre pessoal e encargos sociais (44,25%), despesas correntes (37,03%), amortização da dívida (8,81%), investimentos (5,99%), juros e encargos da dívida (3,88%) e inversões financeiras (0,04%).

Por tratar-se de ano eleitoral, o uso político da Paraná Educativa preocupa os adversários, e, recentemente, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública para impedir sua utilização indevida. Requião diz que só a TV estatal mostra para a população o que o governo faz, porque os "jornalões", segundo ele, têm outros interesses a defender. A oposição também reclama da falta de transparência em ações como repasse de verbas a ONGs e compra superfaturada de aparelhos de televisão para escolas públicas, assunto que passou de um mandato para o outro.

O cenário político para 2008 ainda não está definido, mas o PMDB pretende ter candidato próprio à prefeitura de Curitiba e, embora exista mais de uma opção para o partido (como o ex-ministro e ex-prefeito Rafael Greca e o reitor da Universidade Federal do Paraná, Augusto Moreira), o voto do governador terá maior peso na decisão. Hoje a capital tem no comando o tucano Beto Richa, um dos prefeitos mais bem avaliados do país, que deve tentar a reeleição e também é tido como futuro candidato de peso ao governo em 2010. O PT tem como principal arma Gleisi Hoffmann, esposa do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Ela foi eleita presidente do partido no Estado.

No último dia de 2007, Requião fez um pronunciamento no Palácio das Araucárias, sede provisória do governo, e disse que foi "um grande ano para o Paraná". "A opção preferencial pelos pobres dirigiu as ações do governo em 2007, em 2008 vai continuar assim", afirmou. "O Paraná tem que ser definitivamente um exemplo para o Brasil. É o Estado que não investe em publicidade, mas investe na saúde, na educação e mantém as melhores estradas do país", completou.

Esta é a última reportagem da série que trouxe balanços do primeiro ano dos governos estaduais

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