Título: Modo de escolha gera críticas e é complicado
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2008, Internacional, p. A9

Não muito tempo atrás, os candidatos a presidente nos Estados Unidos eram escolhidos como se faz no mundo inteiro, em conchavos partidários e reuniões a portas fechadas. O peculiar sistema em que os eleitores são chamados a participar do processo desde o início é uma criação recente. Em 1972, por exemplo, só houve primárias em 21 dos 50 Estados americanos.

O que se decide nessa etapa é a composição das delegações que os Estados enviarão mais tarde para as convenções nacionais dos partidos. O candidato que tiver o apoio de mais da metade dos delegados será o escolhido para disputar a eleição presidencial. Neste ano, a convenção dos democratas será em agosto e a dos republicanos, em setembro. Cada partido tem suas regras e cada Estado escolhe de um jeito seus delegados.

Em Iowa, o modelo adotado tem traços insólitos. Ao contrário do que ocorre nas primárias em outros Estados, não há uma votação tradicional, com urnas e tudo mais, mas um sistema conhecido como "caucus". Os eleitores se reúnem por algumas horas em locais como escolas, igrejas e bibliotecas, discutem suas preferências e medem forças. O candidato que juntar mais gente ganha o direito de indicar um certo número de delegados.

Os republicanos votam escrevendo os nomes dos candidatos em pedacinhos de papel que são depositados em chapéus. Nas assembléias dos democratas, os eleitores se agrupam conforme suas simpatias. Se uma turma reunir menos de 15% do total de eleitores presentes, seus membros podem fazer uma segunda opção na hora. Funcionários dos partidos acompanham tudo e anunciam os resultados depois.

Na prática, o sistema funciona como um teste para a capacidade de organização dos candidatos e submete todos a um exame minucioso. Para se sair bem em lugares como Iowa e New Hampshire, os políticos são obrigados a passar meses fazendo campanha em cidades pequenas, batendo de porta em porta e respondendo diretamente às perguntas dos eleitores, o tipo de coisa que nunca acontece nos Estados maiores.

Muita gente critica esse sistema pela importância que Estados pequenos como Iowa e New Hampshire adquirem na campanha presidencial, mas a força da tradição tem prevalecido. Iowa tem pouco mais de 2 milhões de eleitores registrados e cerca de 250 mil deverão participar das assembléias partidárias de hoje à noite. New Hampshire tem 850 mil eleitores e pouco mais da metade deve votar na terça.

Neste ano, vários Estados anteciparam as datas de suas primárias para ampliar sua influência no processo. No dia 5 de fevereiro, 22 dos 50 Estados americanos irão votar. Isso levou o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que lidera a corrida presidencial entre os republicanos, a adotar uma estratégia diferente que nunca deu certo antes. Ele decidiu ignorar Iowa e New Hampshire e preferiu concentrar seus esforços em Estados grandes, como a Flórida. (RB)

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