Título: Corrida presidencial dos EUA começa para valer
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2008, Internacional, p. A9

Os dois partidos que dominam a política dos Estados Unidos darão início hoje à maratona que definirá seus candidatos para as eleições presidenciais de novembro. Faz tempo que o eleitorado americano não vê uma disputa como essa. Há uma dúzia de pretendentes no páreo e não existe nada mais arriscado do que tentar adivinhar quem estará em pé no fim da corrida.

A ex-primeira-dama Hillary Clinton é a favorita entre os democratas, com quase vinte pontos de vantagem sobre os adversários nas pesquisas. Mas sua situação é muito desconfortável nos dois pequenos Estados que abrirão a temporada eleitoral, Iowa e New Hampshire, onde o senador Barack Obama e o ex-senador John Edwards ganharam terreno nos últimos meses.

Os três estão praticamente empatados em Iowa, onde democratas e republicanos indicarão suas preferências em assembléias que vão mobilizar milhares de eleitores hoje à noite. O resultado será conhecido nas primeiras horas da madrugada de amanhã, pelo horário brasileiro. Em New Hampshire, os dois partidos terão eleições primárias na próxima terça-feira.

Embora pequenos, os dois Estados têm enorme importância no sistema político americano por serem os primeiros a se manifestar. Candidatos que colherem bons resultados na largada terão melhores chances nas etapas seguintes, quando chegará a vez dos eleitores de Estados mais importantes como a Califórnia e a Flórida darem a sua opinião.

A batalha em Iowa pode ser decisiva para os democratas. Um fiasco hoje provavelmente mandará mais cedo para casa Edwards, um advogado milionário que cativou eleitores com seu discurso populista. Se Obama ganhar, as coisas ficarão complicadas para Hillary e a poderosa máquina partidária que ela construiu com a ajuda do marido, o ex-presidente Bill Clinton.

Entre os republicanos, a disputa está mais embolada. Dois ex-governadores, Mitt Romney e Mike Huckabee, chegaram empatados ao dia das prévias em Iowa. Muitos analistas acreditam que somente um dos dois terá condições de continuar na corrida a partir de amanhã. Em New Hampshire, a briga está entre Romney e o senador John McCain, mas pode haver surpresas se Romney perder em Iowa.

As divisões nos dois partidos são um reflexo do ânimo do eleitorado. Após sete anos governados pelo presidente George Bush, os americanos estão cansados dos republicanos, pessimistas com o futuro do país e muito angustiados com a situação da economia. A maioria acha que os EUA entrarão numa recessão em plena campanha eleitoral, segundo as pesquisas.

Esse clima tem se revelado propício para os democratas. Seus candidatos atraem mais gente para ouvi-los em Iowa e New Hampshire e estão arrecadando muito mais dinheiro do que os republicanos, numa campanha que já é a mais cara da história americana. As estatísticas disponíveis mostram que os democratas arrecadaram US$ 241 milhões até setembro e os republicanos, US$ 175 milhões.

Candidatos que pregam mudanças e despontaram recentemente como novidades no cenário político ganharam impulso nas últimas semanas. Obama, o primeiro negro com chances reais de chegar à Casa Branca, virou uma ameaça séria para Hillary. Huckabee, um ex-pastor evangélico que era um desconhecido até um mês atrás, começou a chamar mais atenção do que Romney, em campanha em Iowa desde o início do ano.

As pesquisas indicam também que há divisões profundas no eleitorado. Os democratas querem o fim da guerra no Iraque e esperam que o próximo presidente torne mais acessível o sistema de saúde americano. Os republicanos acham melhor manter as tropas americanas no Iraque por mais tempo e querem que o governo faça algo para conter o fluxo de imigrantes que entram ilegalmente no país.

Nos últimos meses, os candidatos dos dois partidos lançaram idéias para lidar com essas questões. Mas no estágio atual a campanha é essencialmente um duelo de personalidades em que sobra pouco espaço para uma discussão aprofundada dos problemas que os EUA enfrentam. Quem quiser substância terá que esperar pelo fim das primárias e pela definição dos nomes dos candidatos que vão se enfrentar em novembro.