Título: Alimento mais caro faz lucro de refeição cair
Autor: Madureira, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2008, Empresas, p. B4

Anna Carolina Negri / Valor Pierre Henri Haritçalde, vice presidente da Sodexho, tenta reduzir a duração dos contratos, que hoje são de um ano, para compensar a inflação dos alimentos Não adiantou diminuir a quantidade de tomate na salada, trocar a carne bovina pela de frango ou até usar o velho truque de colocar mais água no feijão. As empresas fornecedoras de refeições coletivas garantem ter tentado todas as substituições possíveis para diminuir o impacto da alta do preço dos alimentos em 2007. E, desde dezembro, vêm tentando renegociar contratos com clientes e fornecedores.

A alta foi de 14,48% para produtos in natura e processados no período acumulado de janeiro a novembro, segundo o Índice de Preços do Atacado (IPA-DI), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nos primeiros onze meses de 2006, esse grupo de alimentos havia mostrado aumento bem mais suave de 1,31%.

As alternativas para diminuir o impacto sobre o lucro do setor - que trabalha com margens entre 3% e 5%, em média - vão desde contratar um preço fixo com fornecedores de alimentos, para um período de três a seis meses, substituindo o atual reajuste quinzenal ou mensal, até repassar integralmente aos clientes as perdas acumuladas no ano. Neste último caso, o consumidor final, ou seja, o funcionário das companhias clientes, sentirá o aumento no bolso. Este público costuma ser heterogêneo: engloba desde altos executivos de instituições financeiras (cujo almoço sai por R$ 100) até trabalhadores de usinas de açúcar e álcool do interior paulista, cujo prato de comida custa R$ 4.

Há empresas que estudam abolir a anualidade dos contratos, o que permitiria reajustes periódicos no preço da refeição, base do faturamento do setor, que estima ter fechado 2007 com 7,7 milhões de pratos servidos ao dia e receita de R$ 8,4 bilhões, nas contas da Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas (Aberc).

"O nosso ebtida (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) fica negativo durante um ou dois meses, pois temos que absorver sozinhos a alta dos alimentos, uma vez que o preço da refeição está fixado em contrato de um ano", diz Pierre Henri Haritçalde, vice-presidente da Sodexho, multinacional de serviços de alimentação. "Como trabalhamos com uma margem de lucro estreita, qualquer desembolso quinzenal ou mensal maior do que o esperado diminui nosso resultado".

No quadrimestre que vai de agosto a novembro, segundo Haritçalde, o lucro da Sodexho no Brasil ficou 30% abaixo do previsto por conta da alta nos preços concentrada neste período, que foi a maior do ano. No acumulado de 2007, a margem de lucro da empresa caiu um ponto percentual, diz o executivo, embora o faturamento tenha crescido 23%, chegando a R$ 760 milhões.

"O aumento, ainda que tímido, do número de empregos formais e o maior número de empresas que contratam os serviços de refeições coletivas explicam o bom desempenho do nosso setor", diz Rogério da Costa, vice-presidente da Aberc e dono da Máxima, empresa de refeições coletivas que fechou o ano com R$ 28,5 milhões de faturamento. "Mas meu lucro caiu cerca de 8%", diz.

Empresas como a Sodexho e a Máxima terão que convencer seus clientes a mudar o atual sistema contratual adotado desde o Plano Real, cuja duração é de um ano, para outro de menor periodicidade - trimestral, bimestral ou mesmo mensal. "Mas como muitos dos nossos clientes são auditados, temos dificuldade em conseguir contratos mensais", diz Haritçalde. Além disso, completa Costa, da Aberc, as empresas do setor estão limitadas pela lei nº 10.192, de fevereiro de 2001, que prevê que a contratação de serviços tenha reajuste de preço anual. "Cada caso deverá ser discutido individualmente", afirma Costa.

A GRSA, líder do setor, decidiu que vai repassar o aumento dos preços na íntegra. "Dependendo do peso de determinados alimentos na demanda do cliente, o reajuste pode chegar a 20%", diz Célia Martins, diretora de suprimentos da GRSA, empresa controlada pelos grupos Accor e Compass. De acordo com o IPA-DI, as maiores variações aconteceram em itens básicos, que não têm como fugir do cardápio dos restaurantes coletivos. Entre janeiro e novembro a categoria feijões, por exemplo, subiu 134,85%. No mesmo período, a alta da batata inglesa foi de 111,6% e carnes e aves subiram cerca de 17%. "Vamos abrir a nossa planilha para os clientes e fazer uma negociação transparente", diz Célia. A GRSA estima ter fechado 2007 com faturamento de R$ 1,5 bilhão, 20% acima do registrado em 2006.

A Gran Sapore não quer assustar os clientes anunciando uma alta antecipada dos contratos. "Estamos tentando renegociar um preço fixo com fornecedores por um prazo mais longo, de três ou seis meses, dependendo do produto", diz Diógenes Carvalho Lima, diretor de suprimentos da Gran Sapore, que encerrou o ano passado com receita de R$ 700 milhões, 23% acima de 2006.

Mesmo porque, diz o executivo, a maioria dos contratos tem renovação entre abril e maio. Dos 620 fornecedores ativos, a Gran Sapore conseguiu convencer 30 a estender o prazo do contrato para manter o mesmo preço. "Mas sempre existe a dúvida de estar comprando na alta ou na baixa do preço do alimento", pondera Lima.