Título: Novo alvo para o BTG
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 31/01/2011, Economia, p. 10

PANAMERICANO Classes C e D são o maior atrativo para compra da instituição do Grupo Silvio Santos

A eventual aquisição do PanAmericano pelo BTG Pactual confirmaria mais uma ousada investida do maior banco de investimentos independente do país na diversificação de seu plano de negócios. O banco de varejo do Grupo Silvio Santos, em crise desde novembro, cresceu emprestando dinheiro para as classes C e D, com operações voltadas, sobretudo, para modalidades de crédito como o consignado (com desconto em folha) e de financiamentos de veículos e imóveis. Eram justamente um dos alvos do BTG Pactual, que estuda aquisições para atuar em nichos promissores do segmento bancário.

O PanAmericano tem 2,1 milhões de clientes ativos ¿ a maior parte deles na baixa renda ¿ , além de 16,9 milhões de cadastrados. ¿O negócio é uma boa notícia para todos, pois garante liquidez e preserva correntistas, além de dar braços para o BTG em áreas estratégicas e muito específicas do varejo, como financiamento de carros¿, comentou o ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas.

No fim de semana, circulavam notícias da agência Reuters de que o desfecho da transação envolvendo a parte do capital nas mãos do Grupo Silvio Santos seria anunciado, com valor estimado de pelo menos R$ 4 bilhões ¿ cifra correspondente ao montante atualizado do rombo nas contas do PanAmericano. Em novembro, a instituição tomou empréstimo de R$ 2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), administrado pelo próprio setor financeiro, para cobrir o passivo descoberto pelo BC em razão da fraude bilionária na sua contabilidade.

Oportunidade Silvio Santos deu como garantia as empresas do seu grupo, que incluem a rede de televisão SBT. BTG e PanAmericano não confirmaram as conversas. A expectativa agora é que Pactual e FGC acertem nos próximos dias os termos da compra. Hoje, o PanAmericano deve divulgar seu balanço de 2010. O Grupo Silvio Santos tem 49% do capital total e a Caixa Econômica Federal, 36%. O rombo extra de R$ 1,5 bilhão preocupa a Caixa, que já amargou fortes perdas com sua participação acionaria no PanAmericano em valores de mercado.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pediu esclarecimentos à diretoria do PanAmericano sobre a possibilidade de o FGC ter de conceder novo empréstimo ao banco. Em resposta, o diretor de Relações com Investidores, Celso Zanin, observou apenas que ¿a administração não identificou, de forma definitiva, o valor das inconsistências contábeis constados anteriormente¿.

Segundo fontes familiares ao assunto ouvidas pela Reuters, antes de chegar a público a informação de um rombo ainda maior do que o informado no ano passado, o PanAmericano procurou concorrentes para tratar reservadamente sobre a possibilidade de sua venda. As conversas se intensificaram também em função de crescentes críticas às falhas na avaliação da saúde do banco pela autoridade monetária e empresas de auditorias. Mas apenas o BTG Pactual teria manifestado interesse. Seus representantes teriam passado o fim de semana debruçados em documentos e balanços do banco de Silvio Santos.

No fim de 2010, o presidente e sócio do BTG, André Esteves, descartou qualquer interesse na aquisição do PanAmericano, apesar de o banco de investimentos ter recebido capitalização de US$ 1,8 bilhão. Ele lembrou, contudo, que estaria ¿atento às oportunidades¿. Os recursos obtidos com a abertura de capital, planejada desde 2006, chegaram próximos ao seu patrimônio (US$ 2,5 bilhões), cerca do dobro do seu lucro no ano passado e quase cinco vezes o seu valor de mercado (US$ 10 bilhões). A eventual compra do banco de varejo abriria mais um ramo de atividade do BTG Pactual, nascido da união do Banco Pactual e da BTG, instituição fundada por Esteves.

Em jogo

» Nome: Banco PanAmericano

» Criação: 1990, em São Paulo

» Atuação: varejo financeiro, com foco nas classes C e D

» Carteira de negócios: financiamentos de veículos e de imóveis (51%), operações de crédito consignado (16%), leasing (13%), cartões (12%) e outros serviços (8%)

» Dívida com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC): R$ 2,5 bilhões

» Rombo atualizado: R$ 4 bilhões

» Clientela ativa: 2,1 milhões de ativos

» Clientes cadastrados: 16,9 milhões

» Pontos de venda exclusivos: 200

» Parceiros comerciais: 20 mil

» Cobertura: 85% do território nacional

» Capital votante: Grupo Silvio Santos (51%) e Caixa Econômica Federal (49%)

» Ranking nacional: 21º

Fontes: PanAmericano e mercado