Título: Crise no crédito pode forçar novos cortes nos juros, diz BC americano
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Fonte: Valor Econômico, 03/01/2008, Finanças, p. C2

Membros do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central americano) ficaram preocupados no mês passado com a possibilidade de a crise do crédito afetar o crescimento econômico do país e exigir cortes maiores na taxa básica de juro. A preocupação consta da ata da reunião de 11 de dezembro do banco central divulgada ontem. Na reunião, os juros básicos dos Estados Unidos foram reduzidos em 0,25 ponto percentual, de 4,5% para 4,25% ao ano.

"Alguns membros notaram o risco de uma resposta desfavorável nas quais as condições do mercado de crédito afetariam ainda mais o crescimento econômico, levando a um maior aperto adicional do crédito; tal evolução adversa poderia exigir um afrouxamento substancial da política". Ao mesmo tempo, membros do Comitê de Mercado Aberto do Fed perceberam que as condições do mercado financeiro podem melhorar mais rápido do que eles esperavam, o que tornaria apropriado o aumento dos custos de empréstimos, revertendo cortes anteriores na taxa básica de juro.

"A economia deve crescer a um ritmo sensivelmente inferior a seu potencial em 2008", anotam os integrantes do Fed, no texto da ata. Os diretores do banco central americano destacam que a crise do setor imobiliário trouxe uma incerteza "não habitual" para o cálculo das perspectivas econômicas.

"Uma evolução negativa deste tipo pode fazer necessária uma nova flexibilização importante da política monetária", acrescenta o colegiado de integrantes do Fed. Para o BC americano, a crise dos créditos "subprime" pode resultar "mais grave e mais prolongada do que parecia em outubro", mês em que realizou a penúltima reunião do ano.

"O comitê concordou em permanecer excepcionalmente alerta ao desenvolvimento dos indicadores econômicos e financeiros, bem como seus efeitos sobre o cenário [econômico], e que os membros estariam preparados para ajustar a direção da política monetária se os prognósticos de crescimento ou inflação piorarem", avalia a equipe de integrantes. Para muitos economistas, parece cada vez mais provável que o Fed deve voltar a relaxar a política monetária em sua reunião no final de janeiro.

A atividade econômica dos Estados Unidos desacelerou significativamente no quarto trimestre. O crescimento do consumo suavizou e várias pesquisas sobre o setor de negócios também mostraram abrandamento.

Na ata, os representantes do Fed indicaram que o crescimento da economia foi "de alguma forma mais decepcionante" do que o antecipado em outubro. "O consumo das famílias não teve essencialmente crescimento em setembro e outubro, sugerindo que as condições de crédito mais estreitas, os preços mais altos da gasolina e a persistência da correção no segmento imobiliário podem estar restringindo a expansão no gasto", diz a ata.