Título: Pasta para Lobão testa unidade do PMDB
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2008, Politica, p. A8

Os comandos do PMDB na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, historicamente divididos, trabalham para que o partido caminhe unido em 2008, tornando-se mais forte na relação institucional com o Palácio do Planalto. A articulação, se bem sucedida, pode ser preocupante para o poder de barganha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula sempre se valeu de divergências do PMDB para protelar o atendimento de pleitos de segmentos da sigla. Agora, será forçado a conversar com o partido, e não com alas. Nesse cenário, quem pode engrossar a voz é o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).

O primeiro grande teste dessa nova relação institucional que o PMDB pretende estabelecer com o Planalto será a nomeação do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para o Ministério de Minas e Energia, aguardada pelos pemedebistas para o início deste ano.

Ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP), o nome de Lobão chegou à mesa de Lula com o apoio das bancadas da Câmara e do Senado, não só como indicação pessoal do ex-presidente. O próprio Sarney levou o novo presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), a Lula, para que desse aval à indicação do partido para o Ministério de Minas e Energia. Não se falou em nomes, mas o gesto era claro. Os deputados mais rebeldes dizem estar "fechadíssimos" com Lobão.

O PMDB quer transformá-lo em ministro do partido, não apenas de uma ala, como sempre aconteceu. Na convivência com Lula, os pemedebistas aprenderam que só com o discurso unificado têm força para exigir poder total sobre seus ministérios. O partido não se contenta em indicar o titular do ministério: quer ocupar os cargos da Pasta.

Quer, também, que Lula finalmente nomeie os indicados do partido para os cargos de segundo e terceiro escalões, que aguardam desde o começo de 2007. A expectativa é que tudo se resolva nesse começo de ano, como prometera Lula a Temer e a outras lideranças da sigla.

A bancada da Câmara, colocada sempre em desvantagem na interlocução com o Palácio do Planalto, viu na queda do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado a oportunidade de buscar maior equilíbrio de poder, e não para tripudiar. O novo presidente da Casa - que é primo do líder da bancada do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) - transformou-se em ponte entre as duas Casas.

Renan caiu, mas teve solidariedade da Câmara. Sarney, com quem o alagoano dividia a interlocução privilegiada com o Planalto, entendeu o movimento partidário e adaptou-se, tornando-se um dos artífices da nova tentativa de unidade partidária.

Garibaldi lançou sua candidatura antes da queda de Renan, e não recuou apesar dos apelos. Transformou-se em candidato de Sarney e Renan - até por falta de opção viável do grupo - e foi eleito com apoio público de Michel Temer e de seu primo. Tornou-se, assim, presidente do Senado em nome do partido. É o que se pretende com Lobão: a indicação é de Sarney, mas o ministro representará o PMDB.

Por trás desse movimento do PMDB, o papel de Garibaldi é destacado. Ele soube aproveitar o vácuo de poder criado quando Renan passou a sofrer denúncias. O alagoano ficou acuado, nas mãos dos colegas. Sarney recuou. Foi quando Garibaldi decidiu se expor. Impôs sua candidatura, construindo a ponte entre Câmara e Senado.

O papel de articulador maior ainda é de Sarney. Até porque Lula não abre mão de tê-lo como conselheiro. E porque o PMDB não pode desconsiderar sua experiência. Além disso, há uma questão matemática: Sarney controla quatro dos 20 votos do PMDB e um do PTB do Senado.

Garibaldi começou o ano integrando um grupo de dissidentes do PMDB, formado por cinco senadores. O grupo acabou se dissolvendo, por falta de unidade. Hoje, há dois dissidentes em tempo integral - Jarbas Vasconcelos (PE) e Mão Santa (PI) - e um eventual, Geraldo Mesquita (AC).

Garibaldi reaproximou-se de Lula, de quem foi aliado e distanciou-se nas eleições de 2006, quando, candidato a governador, viu o presidente apoiar a reeleição de sua adversária, a governadora Wilma de Faria. Mesmo afastado do governo, Garibaldi não mantinha oposição radical. Agora, Lula espera contar com ele como aliado no comando do Senado. Eleito no final de 2007, não teve tempo de atuar. "Entrei no fim da partida. Fui eleito e o juiz apitou o fim do jogo", diz ele. Mas, no único ano de mandato como presidente da Casa, a principal tarefa de Garibaldi será partidária: trabalhar pelo fim da segregação entre as bancadas do seu partido.