Título: Emprego e pouco estudo
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Fonte: Correio Braziliense, 31/01/2011, Opinião, p. 12

Com a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) atingindo cerca de 7,5%, o Brasil registrou em 2010 a menor taxa de desocupação da história: 6,7%. O forte ritmo de crescimento forçou bruscas mudanças no perfil do mercado de trabalho, incluindo expressiva e generalizada formalização, observada em todas as regiões do país e em todas as atividades econômicas. Nada menos que 2,5 milhões de brasileiros passaram a contar com as garantias da carteira assinada. O fenômeno permitiu que idosos voltassem a disputar espaço, mulheres ampliassem a participação e que até entre os menos qualificados (incluindo os que nem sequer sabem ler e escrever) houvesse quem assegurasse vaga.

Sem dúvida, a grande abertura de oportunidades é fato a ser festejado. Apenas não se pode fechar os olhos para um lado preocupante da questão: só por falta de alternativa, empregadores flexibilizaram as exigências e contrataram mão de obra menos especializada. Embora quase 78% dos postos tenham sido preenchidos por pessoas com ensino médio incompleto para cima, as admissões de analfabetos e de pessoas com ensino fundamental, não necessariamente completo, passaram de 13%. Urge analisar com lupa esse aspecto porque a qualidade da ocupação perde evidência com a queda do desemprego. Acomodar-se à situação é arriscar-se a dar espaço a grave problema social logo adiante.

Governo e sociedade precisam, pois, reagir rápido, antes que se estabeleça de vez um abismo entre o nível de escolaridade e de formação técnica do cidadão e o das necessidades do setor produtivo nacional. Na verdade, a diferença entre os dois patamares existe antes de o PIB ascender em velocidade de cruzeiro. Não por acaso, vários alertas já foram emitidos sobre a possibilidade de o país viver um apagão de mão de obra. O Brasil tem conseguido ampliar o acesso à escola ¿ hoje, praticamente universalizado ¿, mas a qualidade do ensino avança pouco. Num contexto mundial de acelerada evolução tecnológica, a nação não alcançará o bonde da história na batida marcha lenta com que evolui a educação.

Engana-se quem imagina ser esse um problema restrito aos analfabetos ou ao conjunto dos inexperientes. No mundo desenvolvido do qual aspiramos participar, mesmo os que concluem o terceiro grau dão sequência aos estudos, num aprendizado constante. Em consequência, a renda sobe, mas portas se fecham aos menos preparados. Com a crise rondando a União Europeia e os Estados Unidos ¿ e o Brasil sob os holofotes de sucesso econômico emergente ¿, logo nosso mercado de trabalho será alvo da cobiça alheia caso nos falte competência para ocupar as vagas. Não se trata de xenofobia, mas de advertência ao Estado e aos concidadãos para que saibam aproveitar as oportunidades presentes.