Título: Projetos de energia solar ressurgem nos EUA
Autor: Lunsford, J. Lynn
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2008, Internacional, p. A9

A Hamilton Sundstrand, subsidiária do conglomerado americano United Technologies Corp., acredita que pode tirar algumas lições de um projeto científico de 25 anos de idade para ajudar a mudar a maneira como a energia elétrica é gerada.

A empresa, mais conhecida como fornecedora de componentes para o setor aeroespacial, deve anunciar hoje que se uniu à US Renewables Group para comercializar um novo tipo de usina solar que usará sal derretido para armazenar o calor do sol e assim poder convertê-lo em eletricidade quando o sol não brilha. Executivos da companhia dizem que a alta dos combustíveis fósseis tornou possível que usinas assim sejam competitivas, particularmente para gerar eletricidade em períodos de pico quando empresas de eletricidade pagam mais caro. O US Renewables Group é uma firma de "private equity" de US$ 575 milhões que se especializa em projetos de eletricidade renovável e combustíveis limpos.

"Achamos que há um mercado enorme aí", disse David Hess, diretor superintendente da Hamilton Sundstrand, que divulgou um faturamento de US$ 5 bilhões em 2006. Hess estima que a empresa pode gerar cerca de US$ 1 bilhão em vendas de equipamento solar nos próximos 15 anos.

O negócio de energia solar é o mais recente numa leva de desdobramentos para uma divisão da United Technologies que raramente recebe atenção quando comparada com suas irmãs corporativas mais famosas, como a Otis, de elevadores, e a Pratt & Whitney, de turbinas para avião. Embora o faturamento da Hamilton Sundstrand seja apenas um terço do da Otis, ela tem obtido algumas grandes vitórias em importantes programas aeroespaciais que a transformaram num dos líderes nessa indústria.

A companhia recebeu um empurrão quando venceu a concorrência para fornecer sistemas especializados para o jumbo 787 Dreamliner, da Boeing. Os equipamentos dela somam cerca de US$ 2,5 milhões em cada 787 e ela tem pedidos para 790 aviões. A companhia também obteve contratos para vender equipamentos para o Airbus 380, o Airbus A400M e os jatos regionais ERJ 170 e 190, da Embraer. Ela fornece sistemas para o Orion, um veículo que a Nasa está desenvolvendo para o planejado retorno dos astronautas à Lua.

Executivos da Hamilton Sundstrand dizem que o negócio da energia solar será gerenciado por meio de uma nova empresa chamada SolarReserve, que terá a licença exclusiva para comercializar e operar usinas solares de grande porte em todo o mundo. Pelo acordo com a US Renewables Group, a divisão Rocketdyne da Hamilton Sundstrand vai fornecer bombas resistentes ao calor e outros equipamentos, bem como o know-how para armazenar e lidar com um sal que foi aquecido a mais de 560 graus centígrados. A empresa diz que as usinas que usarem esse método conseguirão gerar até 500 megawatts de potência no período de pico ou gerar continuamente 50 megawatts. Um megawatt é suficiente para abastecer aproximadamente 1.000 residências.

"Devido à capacidade única do produto de armazenar a energia que ele captura, este sistema vai funcionar como uma usina hidrelétrica convencional, mas com várias vantagens", disse Lee Bailey, diretor-gerente da US Renewables Group. "Este produto é mais previsível do que as reservas de água, o insumo é gratuito e não se extingue e o impacto ambiental é essencialmente zero."

Bailey disse que a US Renewables já investiu em projetos energéticos geotérmicos, de biomassa e outros que são adequados ao ambiente, mas não tinha encontrado uma tecnologia solar apropriada até que soube do método da HS Rocketdyne de usar sal derretido para deter o calor. De acordo com a empresa, o sal derretido perde somente cerca de 1% de seu calor durante um dia, o que possibilita o armazenamento da energia por longos períodos de tempo.

A tecnologia da usina solar foi demonstrada pela primeira vez nos anos 80 nas proximidades de Barstow, na Califórnia, pela Rocketdyne, que usou o calor do sol para converter água em vapor para alimentar geradores. Em 1994, o projeto foi modificado para incluir o uso de sal derretido para o armazenamento de energia. Nesse sistema, o sal derretido é bombeado por uma torre, onde é aquecido pelos raios do sol. O sal é então armazenado em contêineres vedados até que seu uso seja necessário. Ele é então usado para converter água em vapor, que move as turbinas que geram a eletricidade. O projeto foi abandonado em 1999, principalmente porque não era econômico a ponto de ser competitivo com outros tipos de geração de energia.