Título: PT investe em Marinho para vencer na cidade onde o partido nasceu
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2008, Política, p. A6

Carol Carquejeiro/Valor - 27/8/2003 "É eu ou é eu", disse o ministro da Previdência sobre sua candidatura à prefeitura de um município dominado por um ex-petista, que virou tucano há quase 20 anos No berço do PT, sobra voto para presidente da República, governador e senador, mas sempre falta para prefeito. O Partido dos Trabalhadores ganhou uma vez a eleição para a Prefeitura de São Bernardo do Campo (SP), mas é como se não tivesse levado: Maurício Soares de Almeida, eleito em 1988, não tardou a se afastar do partido, se aproximar do PSDB e estabelecer um domínio que já se estende por 20 anos sobre a política da cidade.

É esse predomínio que o ministro Luiz Marinho (Previdencia Social) pretende enfrentar e vencer nas eleições de outubro, e quebrar de vez o tabu da invencibilidade mauricista em São Bernardo. Marinho é o primeiro ministro de Lula a confirmar publicamente que disputará as eleições municipais, muito embora ele tenha pelo menos até o mês de junho para decidir se deixar o ministério para virar candidato (Marta Suplicy, do Turismo, deve adiar o máximo politicamente conveniente para anunciar que é candidata em São Paulo).

"É eu ou é eu", disse Marinho ao Valor, depois de analisar os sucessivos fracassos petistas nas eleições para prefeito de São Bernardo. Segundo o ministro da Previdência, todos os candidatos petistas a outros cargos - Lula, para presidente, Marta Suplicy, para o governo do estado e Eduardo Suplicy, para o Senado, entre outros - venceram na cidade em que o presidente Lula e dona Marisa pagam o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). Menos o candidato à prefeitura municipal prefeito. E o único quadro de que dispõe o PT para alterar essa situação, no momento, seria ele mesmo, Marinho.

Em 2000, o PT jogou alto com a candidatura de Vicentinho, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores, numa coligação com o PCdoB, mas não passou dos 35,14% dos votos. Ainda assim foi o dobro da votação obtida por um candidato menos notável quatro anos antes, Wagner Lino Alves, que obtivera 17,94% dos votos válidos - as duas eleições, aliás, vencidas por Maurício, ex-advogado da CUT, ex-petista e que deve disputar novamente em outubro, agora sob a legenda do PSB (após passar pelo PSDB e PPS), mas ainda de penas de tucano - em 2006 ele apoiou a candidatura de Geraldo Alckmin a presidente.

O desastre veio em 2004, quando Vicentinho foi outra vez candidato e teve menos votos (22,8% dos votos válidos) que na eleição anterior. Maurício foi outra vez o grande vitorioso ao eleger o sucessor, William Dib (PSB), que agora deve apoiá-lo na nova tentativa para voltar à prefeitura. Atento aos erros cometidos por Vicentinho, o ministro da Previdência já avançou na costura de uma aliança com 10 partidos, que pode ser ampliada até junho, data da convenção para a escolha do candidato.

Enquanto articula uma ampla coligação eleitoral - uma novidade, pois até agora o PT em São Bernardo no máximo se associou ao PCdoB) -, Marinho costura o apoio de Lula, o morador mais ilustre de São Bernardo, em longos serões no Palácio da Alvorada ou na Granja do Torto. Lula acha que Marinho só deveria entrar na disputa com a certeza da vitória. Também pediu que ele ponderasse o que considerava mais importante no momento, governar São Bernardo ou deixar a Previdência Social saneada. Marinho diz que o desafio ministerial é tentador, mas ele está convencido de que entra na eleição para vencer e resgatar a cidade-símbolo do sindicalismo do fim dos anos 1970 para o PT.

Lula já disse que, ao deixar o governo, vai morar em São Bernardo do Campo. Marinho acha que a hora é essa para se tornar prefeito da cidade que deve se tornar destino das romarias petistas com vistas à eventual volta de Lula ao poder nas eleições de 2014. Na opinião do ministro da Previdência, o atual esquema de poder em São Bernardo passou pelo desgaste natural de um longo predomínio político, e a atual administração também deixou brechas que ele pretende explorar na campanha eleitoral.

"Como uma grande pedra de gelo, ele (Maurício Soares de Almeida) começa a derreter", provoca Luiz Marinho.

Para a campanha de São Bernardo, Luiz Marinho deve levar seus principais feitos nacionais, como a instituição de uma regra de longo prazo para o aumento do salário mínimo e a correção da tabela do imposto de renda retido na fonte. Mas o que deve pesar mesmo a seu favor será o empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que, segundo petistas, está assegurado. Em 2004, Lula enviou uma carta de apoio a Vicentinho. Sua presença será mais sentida em 2008, de acordo com petistas. A decisão se ficar afastado dos palanques no primeiro turno vale para todos os municípios, menos para São Bernardo, segundo se diz no PT, muito embora, formalmente, Maurício esteja filiado a uma sigla aliada: o PSB. Marinho está confiante que só não será o prefeito pelos próprios erros.

"Só se eu errar muito", diz.