Título: Atrair e reter profissionais são desafios para o setor
Autor: Torres, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2008, Empresas, p. B3

Depois de contratarem mais de 1,7 mil trainees ao longo de 2007, as principais empresas de auditoria e consultoria que atuam no país devem repetir a dose em 2008, na medida em que precisam formar pessoal capacitado para acompanhar o crescimento do mercado. Apesar do número alto de contratações, a vida dessas empresas não tem sido fácil quando o assunto é reter talentos, já que a concorrência é cada vez mais acirrada, seja com as rivais do setor, seja com os clientes e os bancos de investimento.

"Um dos principais desafios do setor hoje é a concorrência por mão-de-obra", diz Sergio Ricardo Romani, sócio líder de auditoria da Ernst & Young, que contratou 299 trainees em 2007 e prevê aumento de 50% para este número em 2008. "O mercado é o nosso grande competidor. Cada empresa que faz oferta de inicial de ações precisa de executivos treinados. Com o IFRS vai ser a mesma coisa", diz Romani, que traça um cenário de falta de profissionais no mercado nos próximos anos. "Existem de 4 a 5 mil auditores hoje no Brasil e o mercado vai demandar 8 mil", afirma.

Segundo o sócio da Ernst, as firmas de auditoria não têm como acompanhar os bônus que empresas e bancos pagam para profissionais recém-formados. "Mas cada área tem seus prós e contras. A carreira de auditoria é mais exponencial, já que em 13 anos você pode virar sócio, o que não ocorre em qualquer setor", diz.

Na visão de Alcides Hellmeister Filho, presidente da Deloitte, o problema é que as empresas em geral não investem em treinamento. Para reter os executivos, ele ressalta a possibilidade de crescimento na empresa. "Entrei como trainee e hoje sou presidente", afirma. Depois de contratar 400 trainees em 2006, a Deloitte chamou outros 500 para trabalhar em 2007. Entre executivos experientes, a contração foi de 35 a 40 pessoas.

Na KPMG, o ritmo foi ainda mais intenso. "Não dá para negar que há uma briga por talentos", diz David Bunce, presidente da firma no Brasil, que contratou 380 trainees no ano passado e cerca de 300 profissionais já com experiência. "Não existem estatísticas oficiais sobre isso, mas acredito que a KPMG é uma das que mais investe em treinamento no Brasil. Gastamos US$ 3,5 mil em treinamento por funcionário por ano", afirma.

O sócio líder de serviços de consultoria da PricewaterhouseCoopers, Otavio Maia, diz que a necessidade de mão-de-obra especializada é tão grande que foi preciso trazer profissionais de outras coligadas no mundo para ajudar a dar conta do volume de trabalho na área de assessoria financeira para fusões e aquisições. "E os bancos de investimento e empresas de private equity vêm e 'roubam' nossos meninos. Segurar está difícil. Achar também", resume. No ano passado, a PwC contratou cerca de 320 trainees e deve selecionar mais 400 em 2008. (FT)