Título: Metais terão cenário mais estável
Autor: Manechini, Guilherme; Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2008, Empresas, p. B7

Após um ano volátil na cotação dos principais metais, causado por incertezas em relação à economia americana e ao fôlego da China para manter seu ritmo de crescimento, a aposta dos analistas para 2008 é de um período com maior estabilidade nos preços das commodities. Sem perspectivas de altas consistentes no primeiro semestre, a atenção do mercado está voltada para um possível aquecimento na demanda na segunda metade do ano.

Na opinião do analista de metais do Standard Bank, Luiz Manreza, 2007 terminou contaminado pela crise financeira dos Estados Unidos, mas para este ano a previsão é de que a China siga sustentando os preços dos metais. "A nossa visão é positiva para o ano, com pequena recuperação na comparação com as cotações do fim de 2007 em metais como o cobre, níquel, zinco e chumbo", diz. Em relatório, o Scotiabank afirma que os preços das commodities será mais aquecido no primeiro semestre de 2008, período em que os estoques de alguns metais devem se estabilizar. O previsto crescimento econômico mundial mais modesto (de 4,5% em 2008 ante os 5,2% em 2007) também deverá trazer alguma calmaria ao mercado. As previsões do Goldman Sachs são menos otimistas. O menor crescimento da economia poderá puxar para baixo as cotações das commodities metálicas.

O preço médio do cobre estimado pelo Standard Bank para 2008 é de US$ 7.015 a tonelada com entrega para três meses. A previsão para o alumínio é de US$ 2.590 a tonelada. O valor médio do níquel esperado é de US$ 31.875 e o do zinco é US$ 2.730. O estanho ficaria em US$ 14.625 e chumbo com preço médio de US$ 2.720 a tonelada para três meses.

No ano passado, o preço médio do cobre foi de US$ 7,1 mil. Em 2008, a consultoria inglesa Standard Chartered prevê queda de preços de até 20%, para cerca de US$ 5,1 mil por tonelada, por conta da crescente produção chinesa do metal. De janeiro a novembro de 2007 a produção de cobre na China subiu 18% em comparação ao ano anterior, alcançando 3,19 milhões de toneladas. A China é o maior consumidor de cobre do mundo.

Já de acordo com o relatório do Goldman Sachs, as medidas de restrição de crescimento econômico na China e a atividade industrial menos aquecida nos Estados Unidos poderão reduzir a demanda por cobre no primeiro semestre, provocando a regularização dos estoques mundiais e uma ligeira queda nos preços. Entretanto, os estoques deverão ficar abaixo dos níveis históricos, o que poderá elevar os preços até o fim do ano.

As cotações de chumbo e zinco também devem cair com o aumento da produção chinesa, aposta o Standard Chatered. A produção de chumbo naquele país cresceu 1% entre janeiro e novembro do ano passado e a de zinco, 20%. Ao longo de 2008, a China deverá fazer suas primeiras exportações do metal.

O preço do níquel, de acordo com relatório do Goldman Sachs, também poderá perder força por conta da enfraquecida demanda nos EUA e pela substituição do aço inox (cujo principal insumo é o níquel) por outros materiais mais baratos. Os estoques baixos e a retomada do consumo mundial podem trazer algum ganho de preço até o fim do ano.

Assim como no mercado financeiro, o comportamento das commodities metálicas foi pautado no desempenho da economia americana. Segundo Manreza, o início do ano passado foi marcado por preços considerados baixos, principalmente, no caso do cobre, o que levou a um movimento de alta a partir do final de janeiro. "As importações da China juntamente como ingresso de fundos de mercado de commodities levou o preço do cobre a valores recordes no primeiro trimestre", diz.

Já no segundo trimestre, de acordo com o analista, os sinais de demanda arrefeceram com a China importando menos cobre e maior receio em relação aos EUA. Em agosto veio o primeiro susto com a economia americana. "Foi um momento de realização técnica, pois ninguém tinha certeza se a crise de subprime estaria comprometendo o cenário para o final de 2007 e início de 2008", declara Manreza.

O segundo susto ocorreu no final de outubro e prevaleceu até o término do ano. "Por mais que os EUA apresentem sinais piores de demanda, começa a se discutir o quanto que o menor consumo afeta a China". Nos casos do zinco e do níquel, Manreza compara os desempenhos dos preços ao do cobre, mas com algumas ressalvas. "O zinco, que tinha uma expectativa de pouca oferta e demanda positiva, o que geraria um déficit foi impactado pela maior produção na China". Já o níquel, na opinião do analista, apurou queda brusca porquê os preços estavam sendo mantidos artificialmente por grandes investidores.