Título: Eles oferecem o coração
Autor: Vinovezky, Leo
Fonte: Correio Braziliense, 31/01/2011, Opinião, p. 13

Em 2005, durante a minha missão diplomática em Montevidéu, Uruguai, tive contato mais próximo com uma organização que, pela nobreza e pertinência do seu trabalho, me fez sentir ainda mais orgulho de Israel.

Em muitos países ao redor do mundo nascem crianças com insuficiência cardíaca. Essas crianças têm expectativa de vida limitada. Desde 1995, médicos israelenses, árabes e judeus, da organização israelense Save a Childs Heart (Sach¿s) estão trabalhando para reverter essa situação.

As estatísticas dizem tudo: em Israel, a cada 29 horas, a vida de uma criança é salva. ¿Hoje nós trouxemos dois bebês com insuficiência cardíaca congênita do hospital de Gaza para o hospital em Israel¿, disse Jonathan Miles, voluntário americano cristão. Os médicos palestinos e israelenses identificaram a situação como de emergência imediata, já que as mães desses bebês apostam uma grande dose de esperança nessa jornada da Autoridade Palestina até Israel. É uma viagem de mais de 60km. Desde Gaza até o Centro Wolfson, em Holon, para alguns isso significa uma viagem ao exterior. As diferenças culturais e políticas são postas de lado: as famílias palestinas são atendidas por médicos judeus em um hospital israelense. Parece surreal, mas 200 crianças são operadas por ano.

A organização Salve a Vida de uma Criança traz pacientes de todo o mundo para Israel e lhes devolve a vida através de cirurgia cardíaca. Essa oportunidade é dada a famílias de baixa renda que não podem arcar com os custos de tais operações; famílias de Gaza e da Cisjordânia, entre outros lugares.

¿Nós temos visto uma evolução positiva, graças ao excelente relacionamento que temos com os 99,9% das pessoas aqui. Mas não é só entre a equipe médica; somos testemunhas de famílias palestinas e israelitas que começam a se relacionar no hospital¿, disse o Dr. Sion Houri, diretor de terapia intensiva pediátrica do Sach¿s.

¿As mães palestinas me dizem que o tratamento que recebem é maravilhoso e que não há nenhuma diferença entre crianças palestinas e israelenses¿, afirma o voluntário Miles. Esse fato parece ser um sinal de esperança em uma área marcada pela violência e o terrorismo em geral.

Os cirurgiões e assistentes da Sach¿s, cerca de 70 pessoas, a maioria voluntários, realizam anualmente em torno de 200 cirurgias cardíacas e, até agora, estima-se que, em termos de sucesso médico, os resultados chegam a 97%.

Os pacientes, desde bebês até adolescentes, são provenientes de países como China, República Democrática do Congo, Equador, Etiópia, Gana, Jordânia, Moldávia, Nigéria, Autoridade Palestina, Rússia, Ucrânia, Vietnam e a ilha de Zanzibar (parte da Federação da Tanzânia).

A Sach¿s desenhou um programa de treinamento nos países que aderiram ao projeto. O objetivo final é criar centros de especialização nesses países, a fim de preparar as equipes locais. Periodicamente, a entidade convida médicos e enfermeiros para um programa de pós-graduação, visando à formação em todas as áreas de cardiologia pediátrica. Além disso, a equipe viaja para o exterior para dar aulas e realizar cirurgias em cooperação com agentes locais. Sem restrições, até que a grande meta seja cumprida, as crianças com cardiopatias congênitas são levadas a Israel para a cirurgia e, em seguida, são mantidas sob observação.

Em um mundo cada vez mais complexo e difícil, essas crianças são tratadas em Israel sem distinção de raça e credo, ideologias e posições econômicas. Desde 1995, a Sach¿s tratou mais de 6 mil crianças e adolescentes e realizou 2.500 cirurgias e cateterismos cardíacos. Desses números, 3 mil crianças atendidas e 1.100 operadas ou submetidas a cateterismos cardíacos são provenientes da Autoridade Palestina. O programa é estimulado pelo Mashav, a Cooperação Internacional Israelense, e a grande inspiração foi o Dr. Ami Cohen.

Cada uma dessas operações custa mais de US$ 10 mil. As pessoas que trabalham para a Sach¿s foram capazes de angariar os fundos necessários. A cada operação bem-sucedida, uma árvore é plantada. Uma árvore que custa US$ 19. São apenas US$19 para ajudar a salvar vidas.

Yassem Bayan, um bebê Iraquiano de uma semana de idade, foi operado em Israel, no Centro Médico Wolfson, após ter sido rejeitado por hospitais em grandes capitais mundiais. ¿Esperemos que isso ajude na construção de uma ponte entre os povos¿, disse Mashyah, a mãe de um bebê palestino.

Inimigos na luta e parceiros pela vida. Esse parece ser o destino das pessoas que decidiram abrir seus corações. Pacientes e médicos decidiram, em comum acordo, ser parceiros pela vida.

Em 2008, servindo como diplomata na Filadélfia, Estados Unidos, tive a oportunidade de organizar, em diferentes universidades da cidade, uma mostra com dezenas de fotos da Sach¿s. Fotos muito simples, mas não menos emocionantes de dias difíceis enfrentados por aqueles pacientes tão jovens que se tornaram grandes heróis, superando obstáculos inimagináveis. Eu sei que alguém pode observar cada uma dessas fotos, detendo-se em cada detalhe, por minutos, pensando e imaginando o antes, o durante e o depois. Por isso, uma foto é mais do que uma simples imagem.

Durante a visita do presidente Martinelli, do Panamá, a Israel, fiz o contato entre a primeira dama e a organização Sach¿s. E esse contato resultou na ida de crianças panamenhas para Israel, salvando suas vidas. Também chegaram bebês do Haiti, todos com muitos problemas e esperanças.

Em 2010 me encontrei com a Sach¿s mais uma vez ao organizar uma visita para os meus colegas no hospital em que essas corajosas crianças são operadas, passando depois por uma etapa pós-operatória, na companhia dos seus anjos da guarda, ou seja, seus pais, médicos e enfermeiros. Eles vieram da China, da Autoridade Palestina e até mesmo da Colômbia. Isso também é Israel. E é por isso que em breve estaremos vendo essas fotos em solo brasileiro. Em Brasília, temos imensa vontade de exibi-las no Congresso Nacional, no Aeroporto JK, ou em qualquer outro espaço especial que sirva de ligação entre Israel, o Brasil e a comunidade das nações.