Título: Cartão é mais transparente, diz Dilma
Autor: Costa, Raymundo; Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2008, Politica, p. A4

A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, garantiu ontem, em entrevista coletiva especialmente convocada com este objetivo, que o governo não pretende acabar com os cartões corporativos, pois eles representam um avanço em relação à forma anterior de gastos, feitos em dinheiro vivo. Ela apresentou um gráfico mostrando que, de 2001 para cá, os gastos com saques vêm diminuindo progressivamente, sendo substituídos pelos cartões corporativos. Em gráfico distribuído por ela, Dilma mostra que, em 2002, R$ 3,6 milhões foram gastos com os cartões, enquanto os saques em dinheiro vivo (Conta Tipo B) representavam R$ 229,6 milhões. No ano passado, os cartões somaram R$ 78 milhões, enquanto a Conta Tipo B somou R$ 99,5 milhões.

Se por um lado quis demonstrar transparência, por outro o governo anuncia que ficará menos transparente, pois vai omitir alguns dados na divulgação dos gastos: gastos considerados como " de segurança presidencial ou de seus familiares " , incluindo despesas alimentares dos Palácios presidenciais, não serão mais publicados no portal da Transparência da Controladoria-Geral da União. Segundo o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Jorge Félix, cabe ao GSI garantir a segurança do presidente, do vice-presidente e de seus familiares.

Félix acrescentou que a divulgação de alguns tipos de gastos, como compra ou manutenção de equipamentos, permite que pessoas que " desejem praticar ações hostis " calculem, de forma aproximada, quantos agentes trabalham na operação. " Para nós, quanto menor a transparência, maior o grau de segurança " .

O general, que deu entrevista coletiva juntamente com Dilma e o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, lembrou que cabe aos agentes de segurança garantir proteção aos familiares do presidente, o que justifica os gastos em São Bernardo do Campo e em Florianópolis, onde mora a filha de Lula, Lurian Silva. Mas Dilma alertou que os gastos de convidados de familiares do presidente não podem ser pagos com cartão corporativo. " O governo não financia festinhas de aniversário " .

Ela também responsabilizou o Banco do Brasil pelo vazamento dos gastos de José Henrique Souza, com despesas relativas ao Palácio do Alvorada, também consideradas de segurança do presidente. " O BB está mudando o sistema de controle dos cartões e houve essa falha " .

Segundo a chefe da Casa Civil, a intenção do governo é alterar a relação entre saques e gastos com cartão. " Hoje, a relação entre as duas coisas é de 30% (cartão) e 70% (saque). Queremos inverter essa relação para 70% (cartão) e 30% (saques) em um espaço mais breve possível " , disse a ministra. Dilma lembrou os gastos com saques em dinheiro vivo estão proibidos desde a semana passada, excetuando-se alguns órgãos como o IBGE ou " em casos excepcionais, com justificativa do ministro da pasta " , declarou Dilma.

Franklin Martins, disse que o governo não teme qualquer tipo de investigação parlamentar e não acredita que o Congresso vá pedir quebra de sigilo dos gastos com a segurança de Lula. " O Parlamento sempre foi responsável com as questões que envolvem segurança nacional " .