Título: Cia. Iguaçu planeja investir em fábrica na Europa ou Rússia
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2008, Agronegócios, p. B12

Maior produtor e exportador de café solúvel do mundo, o Brasil recebe cada vez menos investimentos nesse segmento. A Cia. Iguaçu de Café Solúvel, terceira maior exportadora de solúvel do país, é o exemplo mais recente dessa tendência. A empresa, que tem ações negociadas na Bovespa, programa uma expansão para os próximos meses, mas o Brasil não está entre os favoritos para receber esses novos aportes.

Controlada pelo grupo japonês Marubeni e com faturamento anual de cerca de R$ 500 milhões, a Cia. Iguaçu tem no Brasil uma única fábrica, em Cornélio Procópio (PR), com capacidade para produzir até 20 mil toneladas de café por ano. A outra unidade da empresa está na Espanha, tocada em sociedade com a Seda Solubles, uma companhia local. "A expansão de nossos negócios está em pauta, mas não temos planos para uma nova planta no Brasil", disse ao Valor Rodolpho Seigo Takahashi, vice-presidente da companhia.

Quando decidiu investir na Espanha, há quase quatro anos, a Cia. Iguaçu argumentou que os custos eram muito altos no Brasil. Segundo Takahashi, esse problema continua a existir, ainda que não seja o único. "É no mínimo 50% mais caro investir no Brasil, uma vez que as máquinas industriais são importadas".

A Cia. Iguaçu ainda não definiu exatamente onde e quando deverá construir sua nova fábrica. Mas está inclinada a fortalecer sua presença na União Européia, que lidera o consumo global de café solúvel, ou partir para a Rússia, que também importa muito e tem recebido aportes de múltis como Nestlé e Kraft.

Além dos custos, pesam sobre a decisão do grupo de investir no exterior o fato de o governo brasileiro não autorizar operações de "drawback" (importação de insumos para reexportação) e a tarifa de 9% imposta pela UE sobre o produto do Brasil. As indústrias de solúvel são as principais consumidoras de café robusta, menos nobre que o arábica. Apesar de o Brasil ser o maior produtor de café do mundo, a oferta de robusta representa no país, dependendo da safra, um terço ou mesmo apenas um quarto da colheita total.

Durante boa parte do ano passado, os preços do café robusta estiveram mais atraentes no mercado internacional do que no Brasil. Atualmente, a relação de preços entre os mercados externo e interno está equilibrada. "Mas queremos ter a opção de escolha de matéria-prima", disse Takahashi. No início de 2007, a torrefadora Café Bom Dia decidiu terceirizar a industrialização de sua produção de torrado e moído nos Estados Unidos para atender aos clientes interessados em blends diferenciados de café, argumentando que não podia importar diferentes grãos.

Com mais de 70% de sua produção exportada, a Cia. Iguaçu é a principal vendedora de solúvel do Brasil para o Japão. Segundo Takahashi, o grupo também está aumentando participação em outros países da Ásia e América do Sul. Para o Brasil, os planos são investir R$ 20 milhões em uma caldeira de biomassa, utilizando borra de café, em substituição à queima de combustíveis fósseis. A companhia tem a marca Iguaçu como carro-chefe.

Apesar de as tarifas impostas pela UE serem sempre acusadas de inibir investimentos no Brasil, as exportações brasileiras de café solúvel continuam firmes. Em 2007, as 75,7 mil toneladas embarcadas renderam US$ 480 milhões, 25,1% mais que em 2006, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics). Edivaldo Barrancos, presidente-interino da entidade e diretor da Cia. Iguaçu, lembra que o consumo global atinge 620 mil toneladas, 25% concentrado na União Européia.

Segundo Barrancos, as indústrias brasileiras se ressentem pelo fato de o governo não apoiar o segmento contra a UE em uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC). "Pagamos duas consultorias, que garantiram vitória do Brasil por conta da tarifa imposta pela UE para o café solúvel". O setor questiona o novo Sistema Geral de Preferências (SGP), que desde 2006 excluiu o Brasil com a imposição da tarifa de 9%. O Brasil tinha uma cota de 12 mil toneladas para exportar para o bloco.