Título: Rural retorna ao lucro com R$ 26,9 milhões
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2008, Finanças, p. C1

O banco Rural começa a deixar no passado a crise que, entre 2005 e 2006, levou a uma drástica redução dos seus ativos. O balanço de 2007, publicado na semana passada, revela um lucro de R$ 26,9 milhões. Em 2006, a instituição registrou um prejuízo de R$ 76,3 milhões. Os números mostram ainda um aumento das operações de crédito de R$ 1,16 bilhão para R$ 1,34 bilhão, reflexo da aposta do banco no crédito consignado.

O patrimônio líquido do banco subiu de R$ 221 milhões em dezembro de 2006 para R$ 340 milhões no fim do ano passado, depois do aporte de R$ 100 milhões feito pelos acionistas. Para a presidente do Rural, Kátia Rabelo, o balanço do ano passado comprova o acerto das "medidas radicais" tomadas depois que o banco fundado por seu pai foi envolvido nas denúncias do mensalão.

Em dois grandes cortes, o banco reduziu suas despesas operacionais de R$ 480 milhões por ano para R$ 140 milhões. Depois de comprar a participação do grupo Seculus, o Rural assumiu 100% da financeira Simples, centrando suas apostas no crédito consignado. A carteira de empréstimo com desconto em folha da Simples é hoje de R$ 604 milhões - R$ 104 milhões superior à meta estabelecida pela direção.

Segundo Kátia, no momento em que o Rural perdeu depósitos e tinha grande dificuldade para fazer captações, as cessões no crédito consignado foram fundamentais para garantir a rentabilidade do banco. Para 2008, a meta nesta carteira é atingir R$ 1 bilhão. O foco da expansão são os servidores públicos da ativa e não a base do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), já muito comprometida.

Embora ainda siga apostando no crédito consignado, o Rural não pretende ficar menos agressivo no middle market, segmento no qual já teve uma carteira de R$ 5 bilhões. Pelo contrário. De acordo com a presidente, 2008 deverá ser um marco na retomada do crescimento da carteira comercial - hoje em torno de R$ 400 milhões - que foi, por quatro décadas, o principal negócio do banco mineiro.

Kátia explica que, sem funding, não havia como fazer produção nova nesta carteira. Mas, agora, o dinheiro começa a voltar para o banco. "Ainda não é perceptível no balanço de 2007, a captação ainda é tímida." Mas não há dúvida, destaca, que os depósitos no banco voltaram a crescer. Ela destaca que o aporte feito pelos acionistas foi um importante sinal para os investidores do comprometimento com o processo de reestruturação do banco e sua saúde financeira.

"Para 2008, as projeções são muito animadoras", diz Kátia. Uma vez por mês, a executiva fala com representantes de todas as áreas do banco numa teleconferência. "Faço questão deste bate-papo." Segundo ela, este é o melhor termômetro de como o banco está evoluindo. "Fomos muito felizes na reestruturação", conclui.

A expectativa da direção do banco mineiro é que a publicação do balanço de 2007 provoque manifestação das agências de rating, com melhoras nas classificações do banco. Segundo Kátia, mais eficiente do que era em 2005, quando tinha uma estrutura muito mais pesada, o Rural está pronto para voltar a crescer no mercado.