Título: Anglo American busca mais níquel no país
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2008, Empresas, p. B7

De Simoni, presidente no Brasil: Jacaré será o próximo projeto do grupo no país A expansão do grupo Anglo American no negócio de níquel passa pelo Brasil, considerado como a nova fronteira mundial em reservas desse metal não-ferroso. A companhia anglo-africana, sediada em Londres, finaliza estudos da sua descoberta mais recente de uma reserva, chamada Jacaré, que fica no sul do Pará. A jazida situa-se próximo à de Onça-Puma, que está em fase de implantação pela Vale do Rio Doce.

"O sul do Pará é a nova região de jazidas de níquel de classe mundial", afirma Walter De Simone, presidente da Anglo American Brasil. No momento, a empresa instala seu maior projeto do mundo nesse setor no país. Com investimento atualizado para US$ 1,5 bilhão, Barro Alto, em Goiás, vai produzir 36 mil toneladas de níquel contido em liga de ferro-níquel a partir de 2009.

Sobre o projeto Jacaré, De Simone informa que os estudos encontram-se na fase de definição do tamanho da reserva, trabalho que deverá ser concluído até meados deste ano. "Será o próximo empreendimento a ser posto em execução pela companhia após concluir a segunda linha de Barro Alto, por volta de abril de 2010". Por essa época, acredita ele, Jacaré já estará com o estudo de viabilidade técnica e econômica pronto.

Segundo o executivo, Jacaré é a última descoberta no país com potencial de jazida de classe mundial. Na área de reserva, somente neste ano, foram feitos 50 mil metros de furos para sondagem, com vistas a dimensionar o seu potencial de metal contido. O minério é do tipo laterítico.

Com o novo projeto, a Anglo American espera dar um salto significativo na produção de níquel. "Os informes preliminares indicam uma reserva com teor e potencial pelo menos iguais aos de Barro Alto", afirma. O projeto goiano fica a 170 km a noroeste de Brasília e a 150 km da mina e instalações operadas atualmente pela controlada Codemin, em Niquelândia.

Atualmente, a companhia produz 10 mil toneladas no Brasil por meio da controlada Codemin, 18 mil em Loma de Níquel, na Venezuela, e 25 mil na África do Sul, como subproduto da exploração de minas de platina.

O preço do níquel e de outras commodities metálicas cotadas ou não em bolsas continuam em alta, puxados pela forte demanda da China. O metal chegou a ser negociado a US$ 55 mil a tonelada em 2007. Nos últimos meses, tem ficado entre US$ 25 mil e US$ 30 mil a tonelada. A expectativa é que ainda se mantenha em patamares atrativos nos próximos anos, afirma Paulo Castellari, diretor de desenvolvimento de negócios da Anglo American Brasil.

De acordo com o executivo, há dez anos a China respondia por 4% do consumo de níquel. Em 2007, esse índice saltou para 20% e em 2011 a previsão é atingir de 30% a 35%. O consumo per capita de aço inox, principal fonte de aplicação do metal, é de 5 kg ao ano no país. No Japão, é de 20 e na Europa, 14. A produção mundial de níquel em 2007 era estimada em 1,5 milhão de toneladas, 50 mil acima do consumo.

O Brasil voltou a ganhar destaque dentro da Anglo American. A carteira de projetos aprovados e em análise no país (novos e de expansão) - em níquel, minério de ferro, fertilizantes (fosfato) e nióbio - supera US$ 3,2 bilhões.

Com a viabilidade a ser confirmada de Jacaré, no mínimo mais US$ 1,5 bilhão serão necessários para se implantar o projeto.

A nomeação de Cynthia Carrol, em março de 2007, como principal executiva da Anglo American acelerou o reposicionamento estratégico de negócios do grupo. O objetivo agora é se firmar como uma companhia focada em mineração. Nesse processo, seu portfólio de ativos no mundo foi reavaliado. Com isso, a empresa saiu de embalagens de papel, de ouro e encontra-se na fase de venda da norte-americana Tarmac, que atua no ramo de materiais de construção.

O foco da companhia, hoje, aponta para metais de base, entre eles cobre e níquel, minério de ferro, carvão, nióbio, platina, diamantes e minerais industriais, caso de fosfato (usado em fertilizantes). Os metais de base, no portfólio da "nova Anglo", ganharam bastante peso. A empresa quer dobrar a produção de cobre até 2017, a de níquel até 2012 e a de carvão metalúrgico até 2015.

Outra meta é triplicar a produção de minério de ferro até 2015, das atuais 31 milhões de toneladas, obtidas na África do Sul. Por isso, um importante passo foi dado no Brasil, com a aquisição de 49% do projeto Minas-Rio, da MMX, por US$ 1,15 bilhão. Esse empreendimento prevê produzir 26,5 milhões de toneladas na primeira fase, no fim de 2009, podendo duplicar a capacidade alguns anos depois.

A avaliação de especialistas é que Cynthia "sacudiu um pouco as coisas" dentro da Anglo, dando mais agressividade à mineradora, cujo valor de mercado está acima de US$ 80 bilhões. De Simone concorda. Após sua chegada, a executiva adicionou US$ 5 bilhões na carteira de projetos aprovados, que entram em operação até 2009. Passou de US$ 6,2 bilhões para mais de US$ 11 bilhões. Entre eles, a expansão de Los Bronces (cobre), no Chile, o de Pebble (cobre e ouro), no Alaska, e o Minas-Rio, no Brasil. Outro tanto ou mais estão em análise.

No Brasil, além de Barro Alto e o Minas-Rio, a empresa finaliza os estudos do projeto de expansão da Copebrás, que faz a mineração de fosfato e fertilizantes. Estima-se US$ 500 milhões para elevar sua capacidade a quase 2 milhões de toneladas por ano em Catalão (GO) e Cubatão (SP). Com outros US$ 30 milhões em um projeto de reciclagem do rejeito do fosfato, a empresa prevê recuperar 2 mil toneladas de nióbio. Atualmente, faz 4,8 mil em Ouvidor/Catalão (GO).

Impulsionada pela alta dos preços do níquel e do nióbio e aumento de volume de fertilizantes (recorde de 1 milhão de toneladas), a subsidiária fechou 2007 com faturamento de US$ 950 milhões, quase 50% superior ao obtido em 2006 - US$ 650 milhões.