Título: Mudanças terão impacto pequeno no crescimento do crédito em 2008
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2008, Política, p. A7

As mudanças nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para os bancos terão impacto no bolso do consumidor, mas não devem afetar o crescimento do crédito, segundo especialistas.

Para o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fabio Barbosa, a mudança foi uma surpresa e onera ainda mais a intermediação financeira, podendo interferir no processo de redução dos spreads (diferença entre o custo de captação para os bancos e os juros cobrados dos clientes). "Ainda é cedo para fazer qualquer avaliação do impacto, mas certamente positivo não é", avalia Barbosa.

Ele cita, no entanto, que a crise externa causada pelos problemas nas hipotecas americanas é um "fator mais determinante do que as alterações tributárias" para eventualmente frear o crescimento do crédito. Antes das mudanças, a entidade previa aumento de 20% no crédito em 2008.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que representa os bancos de médio porte, Renato Oliva, concorda que a mudança não terá impacto na curva de crescimento do crédito. Isso porque, segundo ele, as prestações terão aumento relativamente pequeno.

Ele cita o exemplo de um empréstimo de R$ 1 mil, com prazo de três anos e juros de 2,5% ao mês. Nesse caso, as prestações subirão de R$ 42,96 para R$ 43,64, variação de R$ 0,68 ao mês.

O mesmo raciocínio é feito pelo economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri. "O impacto nas prestações será pequeno e as vendas do comércio não devem cair por conta do aumento de impostos", prevê.

O impacto para o financiamento de veículos, cujas taxas são as menores, deve ser relativizado, visto que mais da metade das operações são feitas por arrendamento mercantil, que não pagam IOF (o tributo cobrado no leasing é o Imposto Sobre Serviços). No financiamento de um automóvel de R$ 25 mil, em 60 meses e com juros de 2% ao mês, por exemplo, a prestação mensal deve aumentar cerca de R$ 23.

"As condições estruturais para o crescimento do crédito ainda são muito positivas e o impacto será marginal", diz a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli. Ela lembra também que um eventual repasse das empresas no preços dos produtos poderá ser compensado com a economia da CPMF.

Por outro lado, para o presidente do Santander, Gabriel Jaramillo, uma das conseqüências "tende a ser o aumento do custo do crédito", disse, em nota. O presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), Walter Machado de Barros, também acredita que o aumento da CSLL não terá impacto sobre o lucro dos bancos, pois deverá ser repassado ao tomador final dos empréstimos.

O presidente da Febraban ressalta, no entanto, que a concorrência bancária está muito forte e que dificilmente os bancos conseguiriam repassar o aumento dos impostos para os clientes. "Dificilmente haverá espaço para repasses", completa Barbosa.