Título: Cervejarias InBev e Anheuser-Busch voltam a conversar sobre uma fusão
Autor: Kesmodel , David ; Miller , John W
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2008, Brasil, p. A2

Depois de cortejar durante meses, as gigantes cervejeiras Carlsberg A/S e Heineken finalmente convenceram a Socttish & Newcastle PLC a se vender, na semana passada, por US$ 15,4 bilhões.

Agora outras titãs neste mercado em franca consolidação podem estar buscando parceiros. Uma possibilidade de dar água na boca: a belgo-brasileira InBev SA unindo-se à americana Anheuser-Busch Co., fabricante da Budweiser.

A InBev e a Anheuser já andaram conversando, dizem pessoas do setor familiarizadas com a visão de ambas as cervejarias. Embora notícias sobre as conversas tenham aparecido já um ano atrás, elas ficaram mais sérias e é possível que haja um negócio ainda este ano, dizem pessoas no setor.

Ontem, a Anheuser recusou-se a discutir especulações de um negócio com a InBev. Mas a companhia divulgou resultados financeiros do terceiro trimestre que mostram por que alguns analistas acreditam que ela pode querer uma fusão. As vendas de cerveja para varejistas nos Estados Unidos subiram só 1,3% em volume, com o crescimento vindo de marcas importadas e não das cervejas nacionais da Anheuser. O lucro do trimestre cresceu 12%, com alta de 8% no faturamento.

A consolidação no setor ganhou nova urgência porque as cervejarias estão pelejando com um fraco crescimento em grandes mercados como o EUA e a Europa Ocidental e com a alta de matérias-primais importantes como cevada e alumínio.

A Heineken e a Carlsberg fecharam acordo para dividir a Scottish & Newcastle, dando à Carlsberg uma empresa russa em rápido crescimento que ela hoje controla junto com a Scottish & Newcastle. A londrina SABMiller, cujo volume só é menor do que o da InBev, e a canadense Molson Coors Brewing Co. planejam unir suas divisões nos EUA, o que lhes daria 30% do mercado americano - do qual a Anheuser tem quase metade.

A perspectiva de um acordo entre a InBev e a Anheuser, que é a terceira maior cervejaria do mundo, está refletida apenas parcialmente em suas ações. Há motivos para cautela, entre eles a debilidade dos mercados de crédito, os altos preços das commodities e os perigos de se fundir duas diretorias fortes, dizem analistas.

Se as cervejarias se unissem, suas ações ganhariam, mas não mais que 10%, dizem analistas. "Fusões de cervejarias são muito caras, por isso os acionistas teriam de ser pacientes antes de ver algum retorno real", diz Karel Zoete, da Rabo Securities, de Amsterdã. Em Bruxelas, a ação da InBev subiu 5%, para 54,85 euros, ontem. A ação tem se recuperado das perdas da semana passada. Em Nova York, a Anheuser caiu 1,1%, para US$ 46,76.

Ainda assim, as perspectivas de crescimento no longo prazo de uma empresa resultante da fusão parecem interessantes. "Haveria vencedores dos dois lados", diz Andrea Puccini, um administrador de fundos da Fideuram Asset Management Ltd., uma divisão da Banca Fideuram, de Roma, que possui ações da InBev.

Numa união InBev-Anheuser, a nova megacervejaria se beneficiaria da agressiva equipe brasileira de vendas e marketing do diretor-presidente da InBev, o brasileiro Carlos Brito. Boa parte do crescimento de vendas da Anheuser no ano passado veio de uma aliança que começou no ano passado com a InBev. Ela importa duas dezenas de marcas de cervejas européias da InBev.

Com um valor de mercado de cerca de US$ 50 bilhões, a InBev pode ser a única cervejaria grande o bastante para digerir a Anheuser, cujo valor de mercado está em torno de US$ 35 bilhões, dizem analistas. Além disso, as empresas não têm sobreposição de mercado que criaria um problema para as autoridades de defesa da concorrência.

Não está claro que formato algum acordo poderia ter. Analistas dizem que ele provavelmente envolveria uma complexa troca de ações parecida com a que foi feita quando a belga Interbrew SA se fundiu com a AmBev em 2004, formando a InBev. Um negócio assim permitiria à InBev reforçar sua presença relativamente fraca nos EUA e daria à Anheuser um grande sócio fora do país com forte presença em mercados emergentes.

A Anheuser tem estudando possíveis alianças, diz o diretor-presidente August A. Busch IV, embora ele se recuse a discutir casos específicos. A fraqueza do dólar "torna o jogo internacional de aquisições difícil para nós, mas pode tornar mais fácil para outros que querem oportunidades dentro dos EUA", observa. Analistas estimam que a família Busch tem menos de 4% das ações da companhia, o que não é o bastante para impedir um negócio que os demais acionistas desejem.

Mas a Anheuser pode querer ganhar tempo com um acordo com a InBev, diz Carlos Laboy, analista do Credit Suisse. Um motivo, diz ele, é que ela pode ter uma chance nos próximos anos de comprar uma fatia controladora do Grupo Modelo SA, do México, fabricante da Corona. Isso traria oportunidades de crescimento significativas à Anheuser, que tem 50% do grupo.

A Anheuser declarou que não vai discutir especulações de fusões ou aquisições. Uma porta-voz da InBev não quis comentar, assim