Título: Infra-estrutura faz seguro garantia crescer 77%
Autor: Júnior, Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2008, Finanças, p. C2

Construção de estaleiros, novas concessões rodoviárias e usinas hidrelétricas. Grandes investimentos públicos e privados movimentaram o setor de seguros em 2007 e surpreenderam o mercado. O seguro garantia, apólice que avaliza que uma obra será terminada dentro do prazo estipulado pelo contrato, cresceu 77%, superando as previsões dos especialistas, que estimavam alta de 30% a 40% nos prêmios.

Os prêmios do garantia somaram R$ 346 milhões, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Foi o valor mais alto já movimentado por este tipo de seguro.

O grande motor do crescimento para o seguro garantia foi o setor de infra-estrutura, com o início de algumas obras há muito esperadas. Além disso, o seguro garantia judicial - apólice apresentada ao juiz como alternativa ao depósito judicial normalmente em causas tributárias - começou finalmente a decolar. Movimentou R$ 50 milhões, dez vezes mais que em 2006.

Mesmo com a forte expansão de 2007, o mercado está otimista com 2008. Para o consultor especializado em seguros, Luiz Roberto Castiglione, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os investimentos da iniciativa privada e a maior aceitação do garantia judicial devem provocar um crescimento de cerca de 40% este ano. Os especialistas acreditam que pelo menos até 2010 o mercado deve manter este ritmo de expansão, graças ao reaquecimento da economia.

Este mês deve ser contabilizada a esperada apólice de uma das usinas do rio Madeira, com investimento estimado de R$ 10 bilhões. O seguro garantia foi estruturado pela Unibanco AIG em conjunto com as seguradoras J. Malucelli, Áurea e a corretora OCS, que pertence à Odebrecht (construtora do consórcio que venceu a licitação).

"O ano passado foi excepcional para o seguro garantia, explicado pelo foco do governo em projetos de infra-estrutura", destaca Alexandre Malucelli, vice-presidente da seguradora que sozinha detém 50% do mercado. A J. Malucelli registrou crescimento de 114%% nos prêmios, com destaque para o garantia judicial. Segundo o executivo, a JM vem há muito tempo estudando este tipo de mercado em outros países e em 2007 resolveu apostar no segmento. A estratégia mostra resultados e a seguradora já tem 85% deste mercado, explorado também pela Áurea.

"O garantia judicial é o segmento que mais vai crescer nos próximos anos", afirma Edvaldo Cerqueira de Souza, presidente da Áurea Seguradora de Créditos e Garantias. A companhia é a segunda maior do mercado e não tem do que reclamar. No ano passado, fechou a maior apólice de sua história, a do Estaleiro Atlântico Sul, que vai construir em Pernambuco até 2010 dez navios petroleiros encomendados pela Transpetro, subsidiária da Petrobras. Este ano, já se prepara para a milionária apólice do Rio Madeira. Em 2007, até novembro, os prêmios da Áurea tiveram expansão de 48%.

Já a UBF Seguros, a terceira maior do segmento, resolveu se reestruturar e se expandir por outras capitais. No ano passado, a empresa abriu escritórios no Rio e Belo Horizonte e este ano vai abrir mais algumas unidades pelo país e procurar novos clientes. "Em 2007 chegamos onde planejávamos com a estrutura que tínhamos" diz Luiz Roberto Foz, presidente da UBF. Os prêmios subiram 57%. Dentro da estratégia para manter o ritmo de crescimento, a UBF, que explora pouco o mercado de garantia judicial, pode dar maior prioridade ao segmento.

Em meio ao forte crescimento, os especialistas pedem uma maior padronização contábil no segmento para se saber qual o exato tamanho do mercado e a participação de cada seguradora. No garantia judicial, por exemplo, o reconhecimento da receita de prêmios no balanço criou uma confusão. Enquanto algumas seguradoras reconheceram em novembro as receitas de apólices previstas para três anos, outras ainda vão fazer este reconhecimento este ano, o que distorce as estatísticas. O mesmo ocorre com o recebimento das comissões do resseguro.