Título: Avastin é aposta da Roche para vários tipos de câncer
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2008, Empresas, p. B8
Uma tendência na medicina atual é que os tratamentos contra o câncer sejam cada vez mais personalizados, atacando somente as células que crescem em explosão frenética e de forma desordenada e deixando as demais partes do corpo sadias.
Mas um tratamento relativamente novo tem encontrado um campo fértil para o avanço do combate de vários tipos de câncer e proporcionado ao seu fabricante, a farmacêutica suíça Roche, um gordo crescimento.
A droga Avastin, vendida no Brasil desde abril do ano passado, depois de uma polêmica para definição do preço com o governo brasileiro, já é estudada para o uso em mais de 10 a 15 tipos de câncer.
"O Avastin tem mostrado resultado em quase todo o tipo de câncer porque ele afeta o suprimento de oxigênio da célula", explica o responsável pela área de oncologia da Roche, Gabriel Fox. Em alguns tratamentos, o Avastin funciona associada às outras drogas, reforçando o ataque aos tumores.
As vendas do produto da Roche, líder em medicamentos para câncer, foram as que mais cresceram entre os cinco remédios mais comercializados pela empresa no ano passado. No ano passado, as vendas somaram US$ 4,47 bilhões, alta de 41% sobre o ano anterior.
Caso encontre aprovação para outras indicações, o que dependerá da posição das autoridades sanitárias dos Estados Unidos, estima-se que as vendas poderão chegar a US$ 10 bilhões, podendo se transformar em um dos grandes "blockbusters" da história da indústria farmacêutica, segundo projetam analistas.
Lançado em 2004 nos Estados Unidos pela Genentech, laboratório controlado pela Roche que inventou o medicamentos e possui a licença para venda no mercado americano, o Avastin já é comercializado em quase 80 países. O medicamento inibe a angiogênese que é o crescimento dos vasos sanguíneos formados para suprir os nutrientes e o oxigênio aos tecidos tumorais.
Indicado inicialmente para o câncer de colorretal, o medicamento já é usado para o combate ao câncer de mama e pulmão na Europa. Nestes dois casos, a Roche aguarda a análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para colocar o medicamento no Brasil. "Aguardamos a liberação para breve", diz o presidente da subsidiária brasileira do laboratório suíço, Ernest Egli.
Depois de duras negociações, o governo brasileiro conseguiu obter um preço inferior ao pretendido pela farmacêutica para lançá-lo no país. O preço será o mesmo nas outras indicações, disse Egli. A empresa tenta inclui-lo na lista dos medicamentos de alta complexidade do governo.
A Roche estuda o comportamento de 40 mil pacientes que usam o medicamento, em fase de pesquisa, contra o câncer renal, cérebro, cabeça, ovário e pescoço. No mundo, se estima que 200 mil pessoas recebam o tratamento e, no Brasil, cerca de 1,4 mil pessoas.
No entanto, a droga da Roche enfrenta dificuldades no mercado americano mesmo depois de ter sido aprovada na Europa. A indicação para o tratamento de câncer de mama recebeu um duro revés depois de um comitê do FDA, o órgão regulatório de remédios e alimentos dos EUA, ter sido rejeitada.
A recusa se deu por cinco votos a quatro, devido à certo aumento da pressão sanguínea em alguns pacientes. A decisão final do FDA sairá no fim deste mês - o que poderá afetar os planos de crescimento do Avastin no maior mercado do mundo.
O jornalista viajou a convite da Roche