Título: Turbulência fecha carteiras de gestores independentes
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2008, Eu, p. D2

A forte turbulência dos mercados financeiros a partir do segundo semestre do ano passado fez suas vítimas entre os gestores de fundos multimercados. Mais agressivos, esses fundos sofreram prejuízos e, por conseqüência, perderam clientes. A Direcional Administração de Recursos decidiu fechar seu fundo Direcional Multimercado, depois que o patrimônio caiu para R$ 15 milhões. Já a Antares Capital Management está transformando o Antares Multimercado em um fundo de ações de crescimento. A Zoom Asset Management, por sua vez, está sendo desativada e seu fundo quantitativo, o Singular Quant Multimercado, está sendo transferido para a Equitas Administração de Fundos e transformado em um long/short.

O Direcional, carteira criada em agosto de 2001, chegou a ter patrimônio de R$ 180 milhões em março do ano passado, mas não resistiu à queda na performance. "Tivemos um ano de rentabilidade ruim, o patrimônio caiu muito e decidimos encerrar, faz parte do jogo do mercado", diz Pedro Carneiro, fundador da Direcional. Ex-Banco Pactual e ex-Ático Asset Management, Carneiro era conhecido no mercado como um dos "contrários", que seguia contra a tendência otimista. Com essa estratégia, o fundo teve bom desempenho em 2004, com 22,86%, para 16,17% do CDI, em 2005, com 19,67%, para 18,92% do referencial, em 2006, com 18,47%, para 15,03% do CDI, mas tropeçou na turbulência em 2007, fechando com apenas 1,64%, para um CDI de 11,82%. Carneiro disse que chegou a estudar propostas de fusão com outras gestoras, mas decidiu pelo encerramento do fundo e está avisando os clientes.

O fundo Antares Multimercado está sendo transformado em uma carteira voltada para ações menos líquidas, explica o sócio da gestora Fabio Fuzetti. Ele atribui boa parte das perdas que a Antares teve à distorção provocada pelo peso de Petrobras e Vale no Índice Bovespa, de quase 30%, e a maioria do mercado teve perdas com operações long/short (de arbitragem). Como os papéis das duas empresas dispararam e se descolaram do resto do mercado, o Ibovespa subiu e arrasou os sistemas de proteção das carteiras, que tiveram perdas tanto nas ações que compraram quanto no hedge feito a partir da venda de índice futuro. Basta notar que o Ibovespa subiu 17,45% no segundo semestre do ano passado, para uma queda de 2,83% do Índice Valor de Pequenas Empresas. "E fazer hedge em papéis específicos fica muito caro para um gestor pequeno", diz Fuzetti. Segundo ele, o fundo multimercado acumulou em 43 meses, até dezembro, um retorno médio de 36% ao ano. "Mas, no ano passado, em cinco meses, perdemos 17% com esse descolamento".

O interesse pelos multimercados cresceu bastante em 2006 e no início do ano passado por conta da rentabilidade maior, favorecida pelo mercado tranqüilo, o que abriu espaço para novos fundos e o encerramento de captação de muitas carteiras, diz Marcelo D'Agosto, diretor do site Fortuna. No ano passado, a captação dos 109 fundos de gestores independentes acompanhados pelo Fortuna ficou em R$ 8,7 bilhões. Neste ano, o saldo reflete um resgate de R$ 874 milhões. Já as butiques de investimento ligadas a bancos - 91 no total - captaram em 2007 R$ 15 bilhões em multimercados, mas perdem este ano R$ 1,2 bilhões. "Quando o mercado fica mais difícil e o rendimento cai, o dinheiro sai", diz. D'Agosto lembra, porém, que esse processo faz parte do desenvolvimento do setor. Em 2005, aconteceu um processo parecido quando o Banco Central puxou os juros e muitos fundos que abriram em 2003 e 2004 deixaram o negócio.

D'Agosto lembra que o gestor depende de um volume mínimo de patrimônio que nem todos conseguem atingir. Segundo ele, hoje 35 fundos de gestores independentes têm menos de R$ 50 milhões e, entre as butiques, 20. Já entre os gestores mais consolidados no mercado, com patrimônio acima de R$ 300 milhões, são apenas 25 entre os independentes e 27 entre as butiques.

A continuar a instabilidade, o processo seletivo do mercado, que separa o joio do trigo, deve prosseguir, afirma Francisco Corrêa da Costa, da Personal Investimentos. "Assim como em 2003, em 2006 houve uma explosão de assets, com muitos executivos querendo aproveitar uma onda de mercado positivo", afirma. Para ele, uma asset precisa ter fôlego para ficar pelo menos três anos para se consolidar. "Quem pensa que vai ficar seis meses e explodir monta asset por razões erradas", diz.

Para Costa, muitos investidores que entraram no ano passado em fundos multimercados e ganharam menos do que o esperado já começam a sacar. "Muitos não estavam preparados para o risco", diz. E considera que assets com patrimônio abaixo de R$ 40 milhões dificilmente sobrevivem. "Menos que isso não dá para ter uma estrutura razoável, a menos que seja apenas para cuidar do dinheiro dos sócios."

É natural que haja um processo de consolidação de assets, acredita George Wachsmann, da Bawm Investments. "Houve uma onda de novos gestores, alguns deram certo, outros não e estão revendo as estratégias" diz. Ele chama a atenção para o fato de que alguns gestores sofreram já na primeira onda de ajuste, em 2006, com a alta dos juros, e que só agora estão voltando, caso da GP. "Mas a Direcional perdeu e se recuperou logo, só que voltou a perder", diz. Wachsmann alerta que muitos investidores de multimercado que entraram no ano passado estão "com um gosto horrível na boca" e podem sair das aplicações. "O investidor pode até tolerar risco, mas perda, não".