Título: Por enquanto, o Brasil na rota dos investimentos estrangeiros
Autor: Schahin , Carlos Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2008, Opinião, p. A10

Em tempos de forte expansão da economia e com a expectativa de o país receber o Investment Grade nos próximos anos, o capital estrangeiro nunca se fez tão presente. O ano de 2007 superou o recorde de 2000 de investimentos estrangeiros diretos (IED), quando foram realizadas várias privatizações, com novos campos de atuação para os investidores estrangeiros em empresas dos setores como telecomunicações e energia, e atingiu o maior nível desde o início da série verificada pelo Banco Central (BC), em 1947. Naquele ano, foram US$ 32,7 bilhões contra US$ 37,4 bilhões verificados no ano passado.

Esse crescimento é conseqüência do chamado bom momento da economia mundial, que desde 2002, cresce 4% ou 5% ao ano, e apesar das incertezas recentes do ambiente econômico global, originado pelo delicado momento norte-americano, o incrível potencial de expansão do Brasil e a "ainda" grande liquidez internacional catalisam um intenso processo de atração mútua. Bastante internacionalizado, com crescimento estável, o país tem atraído maior número de investimentos estrangeiros nos últimos anos devido às medidas que apontam para um maior grau de abertura e modernização da economia brasileira.

Hoje, além do IED, temos registrado a elevação das entradas estrangeiras na compra de ações e numa variada gama de opções (dívidas subordinadas, debêntures entre outros). A economia doméstica tem demonstrado fortes atrativos, apesar do ambiente de negócios ainda sofrer instabilidades.

O Brasil tem uma carga tributária muito elevada, problemas de infra-estrutura básicos - como a incógnita do suprimento de energia -, limitações logísticas em sua malha viária e deficiência na distribuição de produtos, sem falar no aparato institucional e na insegurança regulatória que permeiam as licitações. Estes são alguns dos principais gargalos para a consolidação desses investimentos que sustentam o crescimento da economia, ajudam a ampliar a capacidade de produção das empresas e auxiliam na oferta de um maior número de bens e serviços.

Apesar desse cenário, graças à grande entrada de capital estrangeiro em 2007 e ao aumento do consumo interno, apoiados por uma progressão do crédito e das rendas, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) recentemente previu que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro registrará crescimento de 4,8% em 2007 e 4,5% em 2008 e em 2009. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também reviu suas expectativas referentes ao crescimento brasileiro em relação ao que havia divulgado no início do ano. Segundo dados que constam do relatório Panorama Econômico Mundial, a economia brasileira registrará crescimento 4,4% em 2007 e 4,2% em 2008.

-------------------------------------------------------------------------------- Estamos atravessando, enquanto país e economia, uma fase de transição positiva, mas sujeita à superação de obstáculos --------------------------------------------------------------------------------

Embora tendo sido corrigidos para cima, esses valores ainda são inferiores às projeções relativas a algumas das principais economias latino-americanas, como a da Argentina, que deve ter uma alta de 7,5% e a venezuelana, que deverá crescer 6,2%. Também permanece muito aquém das estimativas traçadas para a economia chinesa, com alta de 10%, e do desempenho da economia indiana, com previsão de crescimento de 8,4%.

Líder de atenção dos investimentos estrangeiros, em 2007, o setor imobiliário foi o que realizou maior número de transações. Dados do 3º trimestre da Pesquisa de Fusões e Aquisições 2007, conduzida pela KMPG Corporate Finance, revelam que, o setor de alimentos no Brasil tem forte participação em toda a década e ocupou por muitos anos a liderança. Atualmente, está no segundo lugar, seguido pelo setor de publicidade e editoras. Em quarto, aparece o setor de shopping centers, seguido por tecnologia da informação, açúcar e álcool, produtos químicos e petroquímicos e companhias energéticas.

Este leque de possibilidades - novos investimentos estrangeiros, fusões e aquisições - unido ao potencial de mercado do país, a estabilidade econômica e a consolidação do respeito aos contratos faz do Brasil um dos mais fortes destinos nessa nova rota. O ano de 2007 é um indicativo dessa visibilidade, marcado por um elevado número de ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês): ao todo, o ano marcou o ingresso de 64 companhias na bolsa paulista, enquanto dez follow-on foram realizados, o que significa um total de 74 ofertas públicas de ações, ultrapassando com folga o número mensurado em 2006, de 42 ofertas.

Entre os destaques, um capítulo à parte para a Bovespa Holding. O IPO da empresa, controladora da bolsa paulista, marcou o maior volume já captado por uma companhia desde a reabertura dos mercados em 2004, com R$ 6,625 bilhões. Apesar da oferta da Bovespa ocupar quase todos os recordes do mercado acionário brasileiro, um pertence à BM&F: o de participação de pessoas físicas. A operação da companhia marcou o ingresso de muitos estreantes na bolsa, estimulados pelo sucesso do IPO da Bovespa.

Desta forma, o Investment Grade vem sendo consolidado a cada dia, num percurso sólido e muito produtivo. O interesse demonstrado por investidores estrangeiros em nossos mercados e companhias é uma boa pista de que as agências acabarão por conceder a nova classificação de crédito, ratificando o que os muitos já consideram uma realidade.

Estamos atravessando - enquanto país e economia - uma fase de transição positiva, mas sujeita à superação de obstáculos importantes: a conquista definitiva da competitividade global como destino para os investimentos produtivos; e a demonstração qualificada deste nosso "porto seguro", quando alguma instabilidade de proporção ainda desconhecida se anuncia.

É preciso termos esta consciência para consolidarmos o nosso avanço.

Carlos Eduardo Schahin é diretor executivo do Banco Schahin, instituição financeira do Grupo Schahin, que também atua nos setores de Engenharia, Energia, Petróleo & Gás, Imobiliário e de Telecomunicações.