Título: Copom pode voltar a elevar os juros
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2008, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central disse de forma explícita, na sua ata divulgada ontem, que poderá aumentar os juros básicos da economia, "caso venha a se consolidar um cenário de divergência entre a inflação projetada e a trajetória das metas". Mas não se comprometeu de antemão com aperto monetário. Sua estratégia será observar o comportamento da inflação até a sua próxima reunião, em março, para então decidir o que fazer.

"A decisão sobre juros vai depender das expectativas inflacionárias", diz o gerente de renda fixa do banco Prosper, Carlos Cintra. "Se continuarem a se deteriorar, o BC sobe os juros." Na ata, o BC diz que sua projeção de inflação para 2008, que em dezembro se encontrava em 4,3%, "elevou-se sensivelmente" e "agora se encontra em torno do valor central de 4,5%" definido como meta para o ano. Pelo documento, não fica claro se o percentual previsto pelo BC está acima ou abaixo dos 4,5%. Mas representa deterioração importante nas projeções inflacionárias do BC.

O economista-chefe para a América Latina do ABN AMRO, Alexandre Schwartsman, divulgou ontem análise em que diz que pelo menos dois fatores pesaram favoravelmente nas projeções do BC, mas não foram capazes de impedir sua elevação. Um dos fatores é a apreciação do câmbio, que passou de R$ 1,80 para R$ 1,75 entre as datas das duas projeções. Outra foi a reestimativa para baixo, de 4,5% para 4,2%, na inflação dos preços administrados projetada pelo BC. Esses dois fatores, sozinhos, deveriam ter trazido a projeção de inflação do BC para algo como 4%. Se a projeção piorou em vez de melhorar, diz Schwartsman, é porque outros fatores pioraram bastante.

Na ata, o BC diz claramente, pela primeira vez, que já ocorre inflação de demanda. "O ritmo de expansão da demanda continua bastante robusto, respondendo ao menos parcialmente pelas pressões de inflacionárias que têm sido observadas no curto prazo." Até então, a inflação de demanda era tida apenas como um risco. A leitura entre os analistas é que a alta da inflação se devia a choques de oferta, como preços dos alimentos.

Marcela Prada, economista da consultoria Tendências, pondera que, na visão do BC, essa pressão inflacionária é vista como transitória. Tanto que, para 2009, a projeção do BC é ainda uma inflação dentro da meta, diz a ata. "O cenário básico é que a maturação dos investimentos leve à ampliação da oferta e que a demanda sofra alguma acomodação", afirmou.

Na ata, o BC deixa claro que aumentaram os riscos de a inflação se sair pior do que o previsto. "Ainda que permaneçam em linhas gerais consistentes com a trajetória de metas, as perspectivas de inflação estão cercadas de maior incerteza, e aumentou o risco de materialização de um cenário inflacionário menos benigno." Além do risco interno, houve piora no cenário externo. O BC diz que uma desaceleração, com uma recessão americana, teria efeitos ambíguos no Brasil. De um lado, reduziria exportações, atuando como fator de contenção da demanda; e um possível arrefecimento nos preços de algumas "commodities" poderia contribuir para menor inflação. De outro, elevaria a aversão ao risco e reduziria a demanda e o preço de ativos do Brasil, levando a uma depreciação da taxa de câmbio.