Título: Crédito de até US$ 21,5 bi para Usiminas e interessados na Cesp
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2008, Finanças, p. C1

Além do gigantesco empréstimo-ponte de US$ 50 bilhões para a Vale comprar a mineradora franco-suíça Xstrata, mais duas operações bilionárias estão no forno neste momento no Brasil. A primeira é o empréstimo de US$ 1,5 bilhão que a Usiminas está tomando no exterior para pagar pela aquisição da mineradora de ferro J. Mendes, fechada em 1º de fevereiro último. Os interessados em comprar a Cesp no leilão de privatização também já estão montando consórcios em busca de crédito de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões.

O edital de convocação para o leilão de venda da Cesp (Companhia Energética Paulista) deve ser divulgado em duas semanas. Segundo cálculos dos investidores, seriam necessários valores de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões para comprar a empresa. Os recursos seriam tomados no mercado externo, em sua maior parte, mas também no mercado interno, em empréstimos em reais.

O valor de mercado da Cesp no último dia 1º de fevereiro era de R$ 13,8 bilhões. Considerando-se a dívida de cerca de R$ 7 bilhões, são necessários algo em torno de US$ 12 bilhões. Mas, para pagar um prêmio pelo controle da empresa, os interessados na disputa teriam de entrar com valores de US$ 15 bilhões, no mínimo, se não chegarem a US$ 20 bilhões aproximadamente.

O Valor apurou que já visitaram o data room (sala de informações sobre a companhia) a espanhola União Fenosa, a Neoenergia (da espanhola Iberdrola), a Suez Energy, a Light, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), a Endesa e a EDP. O Credit Suisse estaria assessorando a CPFL e o Deutsche, a Suez. O JPMorgan e o Goldman Sachs também já teriam sido contratados para assessorar a EDP e a Light, não necessariamente nessa ordem. Segundo rumores, a EDP tenderia a se associar com a Endesa e a Suez com a CPFL e a Neoenergia. O Banco Fator atua do lado da Cesp - foi contratado para fazer os serviços de avaliação da empresa -, assim como o Citigroup, que faz a avaliação e monta a estrutura da venda da empresa.

Para os bancos, a operação de crédito para a compra da Cesp será um grande teste neste momento. O volume de recursos necessário é grande e o setor de energia é considerado mais arriscado do que o de mineração, pois está sujeito a mais incertezas regulatórias. Além disso, as receitas da Cesp são em reais, mas o mercado interno não consegue absorver todo esse volume de crédito. Se a compra da Xstrata pela Vale sair, assim como o empréstimo de US$ 50 bilhões, muitos bancos ficarão com limites quase tomados para o Brasil, tornando outras operações mais difíceis.

Segundo bancos, foi justamente por falta de balanço que a Merrill Lynch acabou ficando de fora do gigantesco empréstimo para a da Vale. Até agora, a Merrill foi o banco que divulgou as maiores perdas absolutas com as hipotecas de alto risco nos Estados Unidos (US$ 24,5 bilhões), segundo a Standard & Poor's.

O Lehman Brothers, apesar de pequeno, conseguiu se comprometer com valores que vão de US$ 500 milhões a US$ 1,7 bilhão. Além do Lehman, o HSBC, o Royal Bank of Scotland, o Citigroup, o BNP Paribas, o Santander, o Credit Suisse e o Calyon assinaram no último domingo o empréstimo, que tem várias parcelas com prazos de vencimento diversos que chegam até sete anos. As condições variam de acordo com a classificação de risco de crédito da Vale. Há ainda cláusulas de "market flex", que vão permitir alterações de taxas no caso de piora do mercado.

As reuniões entre os participantes do empréstimo, no Chase Manhattan Plaza, em Nova York, no escritório da firma de advogados Milbank, Tweed, Hadley & McCloy, foram tensas. Os bancos estão com o capital apertado e os executivos da área de empréstimos precisam de argumentos sólidos para convencer seus comitês de crédito de que devem realmente participar de uma operação com montantes de até US$ 8 bilhões em um momento de crise de liquidez internacional.

De tamanho e risco menores é a captação da Usiminas, para comprar a J. Mendes, fundada em 1966 na cidade mineira de Itaúna e que pertencia ao empresário José Mendes Nogueira. A Usiminas já pagou US$ 925 milhões pela aquisição. Recebeu US$ 1,5 bilhão do HSBC, o assessor da empresa na operação de compra, desde o final de 2007. Agora, o HSBC vai distribuir US$ 1,2 bilhão e US$ 300 milhões pretende manter em seus próprios livros.

O empréstimo à Usiminas, que começa a ser vendido agora, tem duas parcelas. A primeira, de US$ 700 milhões, tem vencimento em dois anos e trata-se de uma linha "revolver". Como um empréstimo "stand-by", um "revolver" ou crédito rotativo fica disponível para a empresa por um período pré-determinado com uma taxa prefixada. Mas, o "revolver" é mais flexível. Um crédito "stand-by", depois de sacado e quitado, não pode ser tomado de novo. O "revolver" permite que a empresa saque os recursos, pague e depois saque de novo desde que dentro do prazo preestabelecido. A Usiminas optou por essa linha, pois poderá pagar mais pela J. Mendes depois que avaliar as reservas de minério de ferro da empresa. A outra parcela do empréstimo à Usiminas, de US$ 500 milhões, será um pré-pagamento à exportação de vencimento em cinco e sete anos. As reuniões com bancos deverão acontecer em meados deste mês, em São Paulo e em Nova York.