Título: Caça às barganhas
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2008, Investimentos, p. D1

O tombo de 6,88% do Índice Bovespa (Ibovespa) em janeiro levou as corretoras a apontarem duas estratégias para o futuro. A primeira é a manutenção do caráter defensivo de parte das recomendações enviadas à Carteira Valor para fevereiro. Nessa toada, continuam entre as preferidas as gigantes Petrobras e Vale. A segunda é a busca por barganhas, uma vez que algumas bocas se encheram d'água diante de ações de empresas sólidas que passaram a valer menos.

A Fator Corretora, por exemplo, passou a incluir em sua carteira os papéis ordinários (ON, com voto) da concessionária de rodovias OHL Brasil depois de eles terem caído 15,52% em janeiro. Com base nos fundamentos da companhia, a corretora projeta preço alvo de R$ 42,30 para a ação em dezembro, 106% acima do fechamento de ontem. Outra com boa perspectiva, segundo a Fator, é preferencial (PN, sem voto) da Net, com potencial de alta de 77,5%. Vale lembrar que as projeções feitas para as ações levam em conta estimativas de lucro para as empresas, mas dependem das condições de mercado para se confirmar.

As mudanças na carteira da Unibanco Corretora também buscaram identificar empresas cujos fundamentos não se alteraram no período de crise, mas que passaram a ter preços melhores, diz o estrategista-chefe Vladimir Pinto. "A maior parte de nossas apostas busca aproveitar a oscilação de curto prazo das ações mais líquidas da bolsa", explica.

O principal risco, porém, é saber até onde vai a crise originada no mercado de crédito imobiliário americano - questão ainda sem consenso no mercado financeiro internacional. "Embora ainda seja imponderável saber se os preços dos ativos refletem corretamente o risco de uma eventual recessão nos EUA, há certamente ativos com preços interessantes", comenta Lika Takahashi, analista chefe da Fator Corretora, em relatório mensal enviado a clientes. "Quando vemos investidores como Warren Buffett e Wilbur Ross, cuja sabedoria de avaliar negócios lhes permite disciplina de investimento e, portanto, excelentes resultados, indo às compras, a pergunta que se deve fazer é se os preços dos ativos já não chegaram ao fundo do poço."

Outra das ações com grande potencial de alta - indicada por três corretoras - é a Usiminas PNA, para quem Eduardo Kondo, da Corretora Concórdia, projeta valorização de até 30% nos próximos meses. "Além do bom preço, há investimentos programados pela companhia que poderão reforçar o valor do papel", diz. Ontem mesmo, o mercado reagiu positivamente à compra da mineradora J. Mendes pela Usiminas . "O momento é positivo para as siderúrgicas", comenta Kondo. A CSN ON tem outras duas indicações na carteira.

Apesar de a queda recente da bolsa apontar algumas ações com preços atrativos, Pinto, do Unibanco, alerta que ainda não é hora de o investidor entrar de cabeça no mercado. "Ainda temos um cenário que exige cautela", comenta. Para ele, em mais um ou dois meses, talvez teremos oportunidades mais interessantes para comprar - o que pode significar novos solavancos no mercado à frente.

As corretoras fazem coro, porém, ao dizerem que, mais do que nunca, é preciso ter atenção aos fundamentos e ao setor em que a empresa está. "É hora de avaliar bem o histórico das companhias", diz o estrategista do Unibanco. "Prefira histórias com mais estabilidade, bom histórico de crescimento ou percepção errada dos investidores", recomenda Lika, da Fator, aos seus clientes. A expectativa é de que, em algum momento, o mercado necessariamente voltará a pagar valores mais justos por jóias hoje depreciadas na bolsa. Mas o tempo em que isso poderá se reverter é absolutamente incerto.

Em janeiro, por exemplo, algumas corretoras já indicavam posições similares, mas a Carteira Valor acabou levando um tropeço maior do que o do Ibovespa, com queda de 10,45%. Nos últimos 12 meses, porém, as valorizações são quase idênticas, ao redor de 33%.