Título: DEM aposta em eleições deste ano para tornar-se um partido 'urbano'
Autor: Costa, Raymundo, Jayme, Thiago Vitale ; Ulhôa, Ra
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2008, Política, p. A9

Ruy Baron/Valor Para Arruda, o DEM "levará tempo e algumas eleições", até se tornar um projeto maduro. "Um partido onde o Henrique Meirelles não teria vergonha de falar o que pensa" De longe, o partido até agora mais bem articulado para as eleições municipais, o Democratas aposta na disputa para completar a transição entre uma sigla rural dominada por figuras oligárquicas, como era o PFL de Antonio Carlos Magalhães, para um partido moderno e urbano. Trata-se de um projeto de médio e longo prazos, que, para vingar, requer que o DEM seja competitivo nas eleições de 5 de outubro. E isso significa ter candidaturas próprias nos maiores centros eleitorais do país.

Não é à toa que a cúpula do DEM começou a semana passada tratando da sucessão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Ela é vital para os planos da legenda. Futuro que será mais tranqüilo com a eventual eleição de Kassab para a maior prefeitura do país, sobretudo numa aliança com o PSDB, que já leve em conta as eleições de 2010 para a Presidência e o governo estadual. É que, além da capital paulista, está em jogo a Prefeitura do Rio de Janeiro, a principal vitrine do Democratas.

Depois de dois mandatos, os líderes do DEM não conseguiram viabilizar um nome para a sucessão do prefeito Cesar Maia, no Rio. Solange Amaral, o nome cogitado, está mal nas pesquisas. "É natural que ela suba um pouco a partir do momento em que ficar mais conhecida", diz Rodrigo Maia, presidente do partido. "Analisamos que ela chegará à eleição com 20% das intenções de voto, em julho ou agosto". Diz isso baseado em pesquisa segundo a qual Solange Amaral chega ao segundo posto quando o eleitor é avisado de que ela é a candidata do prefeito Cesar Maia.

Além de Rio e São Paulo, o Democratas entra na eleição de outubro com candidatos bem colocados nas pesquisas - do primeiro ao terceiro lugar - em pelo menos uma dezena de capitais. Caso, por exemplo, de Recife (PE) e Fortaleza (CE), onde o partido lidera com o ex-governador Mendonça Filho e o ex-deputado federal Moroni Torgan, respectivamente.

Nos colégios importantes, até agora, o pior desempenho do DEM é em Belo Horizonte (MG), que compõe o chamado "Triângulo das Bermudas" com Rio e São Paulo. Em Salvador, outro colégio eleitoral de peso, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto aparece em empate técnico com o segundo colocado, o atual prefeito João Henrique (PMDB).

O DEM tem ainda candidatos em boa posição nas pesquisas em Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Aracaju (SE), Manaus (AM), São Luiz (MA), Belém (PA), Boa Vista (RR), Macapá (AP) e Palmas (TO). Nos cálculos da cúpula do DEM, a vitória é um detalhe: o importante é ter candidatos nos maiores municípios e votos em quantidade para eleger um grande número de vereadores. Uma base sobre a qual, nas eleições seguintes, o partido tentará crescer em nível estadual e nacional.

A lógica do DEM é a mesma que regeu a consolidação do PT como um dos maiores partidos do país. Nas eleições municipais de 2004, o então PFL teve uma perda de cerca de 20% de votos no país todo em relação ao pleito de 2000. Um dos motivos foi a ausência de candidato a prefeito em São Paulo - o partido coligou-se ao PSDB e ocupou a vaga de vice-prefeito, com Gilberto Kassab. Já em 2000, o partido disputou com Romeu Tuma. Ele não ganhou, mas somou votos para a legenda.

Em 2008, a estratégia do renovado Democratas é recuperar os votos perdidos na eleição passada ou, ao menos, não perder mais. Disputar a prefeitura de uma capital é importante e dá mais visibilidade ao partido. Mas é o número de votos dado aos seus candidatos que define o espaço político que o partido ocupará no país. "Mesmo que o candidato não ganhe, ele soma votos. E são os votos que mostram a musculatura do partido. Temos que disputar em muitas cidades para manter a estatura da legenda", afirmou o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).

O Partido dos Trabalhadores teve sucesso ao seguir essa estratégica por ser um partido ideológico, que aproveitava as derrotas para avançar. A dúvida é se o DEM é feito do mesmo sal. O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, único eleito pela legenda em 2006, diz não ter dúvidas: "Essa é a fórmula do sucesso no médio e longo prazos".

Para Arruda, "o pensamento liberal no Brasil não tem outro representante", mas ele é o primeiro a reconhecer que a construção do DEM "levará tempo e algumas eleições", até que ele se torne um projeto maduro. "Um partido onde o Henrique Meirelles (presidente do Banco Central) não teria vergonha de falar o que pensa", diz o o governador.

Além das capitais, o DEM pretende disputar com candidato próprio eleições em cidades com grande eleitorado, como Campinas e Ribeirão Preto. Isso, no entanto, dependerá do quadro de coligações. A decisão do Democratas é não atropelar aliados, repetindo uma prática que condena no PT, que é a imposição da candidatura própria a qualquer custo. Isso deve valer inclusive para São Paulo, na hipótese de Kassab virar pó nas pesquisas de opinião pública.

"O objetivo é ter o maior número de candidatos, mas sem sufocar as alianças. Estamos atentos às realidades políticas de cada município, onde às vezes não há como ter candidato. O partido tem que saber fazer alianças", afirma o tesoureiro do DEM, o ex-deputado Saulo Queiroz. O mapa de alianças deve ficar mais claro a partir de abril, quando termina o prazo para a desincompatibilização e as conversas ficam mais "densas", segundo Saulo.

Está praticamente descartada a apresentação de candidatura própria em Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG). O DEM também não deve disputar em Campo Grande (MS). Estão em aberto, sem definição se haverá candidatura própria ou não, os casos de Goiânia (GO), Cuiabá (MT), Teresina (PI), Natal (RN), João Pessoa (PB) e Maceió (AL).

Rodrigo Maia destaca a importância da eleição municipal para o partido como ensaio para 2010. "Em 2000 e 2004, o PT fez muitas eleições importantes e viu o resultado em 2002 e 2006", lembra. O deputado não vê necessidade de vitória em todas as disputas que fizer, mas analisa como fundamental fazer uma boa figura. "Independente do número de vitórias, ter bons resultados será muito importante para o partido."

Todos os esforços, segundo Rodrigo Maia, estão voltados para fazer com que o partido tenha nomes viáveis à disputa pela Presidência da República. "Esse é o caminho", afirma. Ter um nome para fazer bom papel na eleição mais importante do país, nas contas do DEM, alavancará votos nas eleições proporcionais, sobretudo para vagas na Câmara dos Deputados. O número de deputados é fundamental para os partidos: o tamanho das bancadas determina o volume de recursos a serem recebidos do Fundo Partidário e o tempo de televisão de cada sigla.