Título: Governo desiste de construir terceira pista de Guarulhos
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2008, Brasil, p. A2

Seis meses após o pior acidente da aviação brasileira, o governo dissolveu boa parte do pacote divulgado no ano passado para reduzir a utilização de Congonhas e ampliar a infra-estrutura aeroportuária no Estado de São Paulo. A idéia de uma terceira pista em Guarulhos foi definitivamente aposentada e os estudos para a construção de um novo grande aeroporto serão concluídos somente em junho de 2009.

Para sustentar o crescimento do setor aéreo, com taxas superiores a 10% ao ano, a estratégia adotada agora passa por "remendos" para otimizar o uso de Guarulhos. Obras mais modestas deverão aumentar de 45 para 54 o número de pousos e decolagens por hora. Isso será possível com a construção de saídas rápidas para as aeronaves e a expansão do pátio de estacionamento dos aviões de grande porte. A maior parte dessas adaptações ocorrerá até o fim de julho.

A revisão de planos anunciada ontem pelo Ministério da Defesa praticamente sepulta as perspectivas de qualquer obra relevante de ampliação de infra-estrutura, com a construção de novas pistas, ainda no governo Lula. Segundo o ministério, a "expectativa" é definir o local exato do novo aeroporto só em junho de 2009 - o que inviabiliza, pelo tempo necessário para obter licenciamento ambiental e preparar a licitação, que as obras comecem até o fim de 2010. O ministro Nelson Jobim estimou em R$ 40 milhões o custo dos estudos e cerca de R$ 2 bilhões os gastos com desapropriações e terraplanagem - o valor não inclui as obras civis. Para Ronaldo Jenkins, diretor técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), as medidas anunciadas em Guarulhos são "paliativas" e acomodam o crescimento do tráfego nos próximos dois anos, apenas. "É preciso que o governo comece a implementar já medidas definitivas."

A solução para médio e longo prazos passa pela expansão do terminal de passageiros e a construção de uma segunda pista no aeroporto de Viracopos. Mas, conforme admitiu o próprio Jobim, essa aposta ainda depende de melhorias no acesso viário a Campinas e as obras não são imediatas - constam de um Plano Diretor da Infraero para Viracopos com horizonte de tempo maior, até 2015.

A explicação de Jobim para descartar a terceira pista em Guarulhos - obra cuja necessidade foi várias vezes apontada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff - é de que ela seria "anti-econômica" por causa dos impactos sociais, financeiros e ambientais. Nos estudos conduzidos pelo ministério, a construção da terceira pista ao norte do aeroporto foi rejeitada de imediato por "inviabilidade técnica".

A opção de "descasamento" entre as duas pistas atuais para que elas ficassem com cabeceiras mais distantes umas das outras - hoje a operação simultânea é impossível por razões de segurança - custaria R$ 691 milhões e traria ganho de apenas 9,3% na capacidade. Para a construção de uma nova pista ao sul do aeroporto, o ganho de capacidade seria de 43%, mas os investimentos alcançariam R$ 2,8 bilhões e haveria forte impacto ambiental.

No curto prazo, ficou só o compromisso de melhorar a utilização de Guarulhos, que já opera à beira do limite. "A alternativa que vamos implementar é otimizar a capacidade do aeroporto, com a reconfiguração do pátio das aeronaves e do terminal. É uma questão de mexer no lay-out", comentou Jobim. Novas posições - 27 ao todo - para o estacionamento de grandes aeronaves serão constituídas em frente ao terminal 1 e nas áreas originalmente destinadas aos terminais 3 e 4 de Guarulhos, possibilitando o aumento das operações.

O ministro informou que a revisão de planos não altera a idéia de tirar do papel o terceiro terminal de passageiros em Guarulhos, que ampliará de 17 milhões para 29 milhões de passageiros ao ano a capacidade do aeroporto. Por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), o lançamento do edital em dezembro foi cancelado. Agora, a perspectiva mais otimista é de que o edital saia em junho. O curioso é que a Infraero sempre tratou dos projetos do novo terminal de passageiros e da nova pista como empreendimentos necessariamente "casados" - um só sairia da gaveta com a execução do outro. (Colaborou Roberta Campassi, de São Paulo)