Título: Watanabe , Marta ; Landim , Raquel
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2008, Brasil, p. A4

Com atendimento a 45,8 milhões de brasileiros e responsável por cerca de 40% da redução da desigualdade social entre 2001 e 2005, o Bolsa Família é uma das poucas unanimidades nacionais e conta com a aprovação tanto de especialistas que avaliam o custo-benefício do programa e seu impacto na despesa pública como também com a de quem enfatiza mais o seu impacto social.

Luiz Guilherme Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, acredita que o Bolsa Família tem o mérito de chegar até a população de extrema pobreza com custo relativamente baixo. Ele lembra que o governo destinou ao programa R$ 6,1 bilhões nos primeiros nove meses de 2007 enquanto gastou, no mesmo perído, R$ 16,9 bilhões com o benefício do auxílio-doença. Ele lembra que o dispêndio com o auxílio-doença aumentou em R$ 10,9, bilhões nos últimos cinco anos, que significa 1,8 Bolsa Família. "Não estou dizendo que o auxílio-doença não deva existir, mas é preciso verificar os gastos e repensá-los."

Schymura acredita que o programa pode ser aperfeiçoado. O Bolsa Família condiciona o recebimento de aportes mensais de R$ 18 a R$ 112 e tem como uma das condicionalidades o número de crianças que a família mantém na escola. "Eu imagino uma política de incentivos que faça as famílias se apropriarem de mais recursos em função do bom desempenho escolar do aluno."

Coordenadora do núcleo de pesquisas em políticas para o desenvolvimento humano da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a professora Rosa Maria Marques também é entusiasta do Bolsa Família, mas em vez de atrelar o programa ao desempenho escolar, defende a instituição de uma renda mínima no país. "Gostaria que isso fosse transformado em um direito." Como funciona bem, o Bolsa Família acaba privilegiando o Nordeste, que é onde estão os mais pobres, o que contribui para a redução das desigualdades regionais, avalia.

Rosa elaborou um estudo no qual conclui que o Bolsa Família chega a representar 40% da renda de alguns municípios, o que, na sua opinião, mostra a eficiência do programa. Ela duvida que, sozinho, o Bolsa Família gere o empreendedorismo necessário para tirar a população da pobreza. "Não é a partir de um programa, que você garante a porta de saída. Seria necessário uma verdadeira revolução do papel do Estado", diz