Título: Meirelles defende provisão contra os riscos de reputação dos bancos
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2008, Internacional, p. A10

Autoridades em Davos alertaram que a volatilidade nos mercados financeiros internacionais pode continuar. Ao mesmo tempo, sinalizaram que vão endurecer a regulação bancária. Isso pode incluir provisões para cobrir também riscos ligados às reputações dos bancos, se for levada em conta proposta do presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles.

"A volatilidade pode permanecer, diminuir, voltar um pouco porque estamos ainda em um processo de precificação de ativos e em função disso podem surgir dados novos'', disse Meirelles, após presidir uma reunião fechada com os principais bancos centrais, organizações multilaterais e bancos comerciais para examinar a crise.

As perdas das instituições financeiras não estarão dimensionadas ainda nos balanços que estão sendo divulgados e Meirelles acha que será necessário mais tempo para a correção no setor imobiliário nos Estados Unidos atingir seu pico.

Malcolm Knigth, diretor-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de BC dos bancos centrais, alertou que a exposição aos créditos hipotecários de alto risco ("subprime") globalmente varia de US$ 250 bilhões a US$ 600 bilhões, muito além do montante até agora revelado pelas principais instituições financeiras.

Para Dominique Strauss-Khan, diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), o coquetel de baixa taxa de juros, alta liquidez, colapso nas gestões de credito e de risco está na base da crise. O primeiro-ministro do Japão, Yasuo Fukuda, reclamou que o desenvolvimento de novas técnicas financeiras veio no rastro de gestão de riscos exageradamente laxista, causando o problema do "subprime'' e ameaçando a economia global.

O Federal Reserve (o banco central americano), principalmente, continuou no centro dos ataques de personagens como o megainvestidor Georges Soros, por ter deixado as instituições financeiras criarem instrumentos que a própria autoridade monetária não compreendia.

Depois de reconhecer falhas no sistema e em toda a regulação financeira, autoridades em Davos consideraram que há muito a fazer no curto e no médio prazo. Agora, a prioridade é restaurar o funcionamento normal nos mercados financeiros. Significa que os BCs devem continuar fornecendo recursos para o mercado interbancário.

No médio e longo prazo, a regulação bancária vai endurecer. Um xerife global para as finanças está fora de cogitação. Mas o Brasil, por intermédio de Meirelles, foi o primeiro a defender revisão do Basiléia 2, o acordo que regulamenta as necessidades adicionais de capital próprio de instituições financeiras para suportar futuras perdas.

Deveremos ter regras mais duras para ativos de securitização. Um ponto de revisão deve envolver linhas de crédito comprometidas e não usadas, no centro da crise atual. Os bancos comprometiam linhas de crédito para garantir emissões de títulos lastreados em receitas como os pagamentos de hipotecas de alto risco. Essas linhas era utilizadas quando as hipotecas começavam a ter calote e o emissor do bônus não tinha como honrá-lo, de forma que o banco acabou com um crédito podre.

Henrique Meirelles sinalizou que os bancos poderão ter de fazer no futuro provisões também para cobrir riscos ligados a suas reputações.

As agências de classificação de risco estarão sob crescente monitoramento regulatório, particularmente na União Européia. Será inevitável rever o papel dessas agências e a alocação de capital por Basiléia 2, onde uma abordagem mais simples permite bancos usar os "ratings"' de crédito como substituto para suas próprias avaliações de risco. Os banqueiros querem encorajar produtos semelhantes com características padronizadas.

Princípios globais devem ser estabelecidos, mas cada país também implementará as medidas que julgar mais necessárias. Para Meirelles, nada disso reduzirá a concessão de créditos pelas instituições financeiras no mundo todo. "Pelo contrário, vai aumentar o crédito, à medida que o banco terá prova de segurança", afirmou ele.