Título: Em 2008, turismo se preocupa com o dólar
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2008, Empresas, p. B2

Depois que algumas restrições no aeroporto de Congonhas foram abolidas e o governo anunciou medidas para aliviar os gargalos do tráfego aéreo, as empresas de turismo - especialmente o de lazer - estão mais otimistas. Restam, porém, duas questões que impedem a euforia em relação a 2008: o dólar barato e a falta de feriados prolongados no segundo semestre.

Na semana passada, quando o Ministério da Defesa decidiu restabelecer as conexões em Congonhas e ampliou o raio de cidades atendidas a partir do aeroporto de mil para 1,5 mil quilômetros, as empresas turísticas interpretaram o fato como um sinal de que o governo sensibilizou-se com seus apelos. "Nesse aspecto, teremos um ano mais tranqüilo. A oferta de vôos também está melhor, com as empresas criando mais rotas", afirma José Eduardo Barbosa, presidente da Braztoa, associação que representa cerca de 60 operadoras de viagens.

Responsáveis por criar os pacotes de viagens, as operadoras também vão se beneficiar da possibilidade de voltarem a fretar vôos em Congonhas, conforme decisão do governo. Durante quase todo o segundo semestre de 2007, os fretamentos estiveram restritos ao aeroporto de Guarulhos.

Com menos receios em relação ao transporte, as preocupações do turismo de lazer em 2008 voltam-se para o câmbio. Em 12 meses, o dólar acumula uma desvalorização de aproximadamente 16%. Ou seja: para os turistas brasileiros, ficou mais barato viajar para o exterior; para os estrangeiros, ficou mais caro vir para o Brasil. As agências de viagens são menos afetadas por isso, já que podem aumentar a receita com produtos internacionais. Os mais prejudicados são hotéis e redes de serviços.

"O preço já não é o diferencial do Brasil e as empresas vão precisar provar que têm bons serviços a oferecer", afirma Luiz Gustavo Barbosa, do Núcleo de Estudos Avançados em Turismo e Hotelaria da Fundação Getúlio Vargas. Para ele, a palavra-chave do setor em 2008 é "competitividade". "O leque global de opções para os estrangeiros é muito grande. E, mesmo os brasileiros, que estão viajando mais para o exterior, estão voltando mais exigentes."

Para Luiz Blanc, gerente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (Abih-BA), os hotéis deverão repetir a receita usada nos períodos mais agudos da crise aérea para atrair clientes. "Vamos preparar mais promoções para o público regional", diz. Blanc acredita que a escassez de feriados prolongados no segundo semestre do ano vai forçar ainda mais o foco no cliente "vizinho".

Uma boa notícia é a maior disposição dos brasileiros para passear. Uma sondagem feita pela FGV neste mês, em dois mil domícilios, mostra que 30,5% das pessoas pretendem viajar nos próximos seis meses e o destino da maioria delas (82%) é algum lugar dentro do Brasil. Em janeiro de 2007, o percentual era de 27%.

A Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) acredita que a maior facilidade de financiamento e crédito é um dos fatores que vão impulsionar as viagens domésticas. A entidade calcula um crescimento entre 15% e 20% nas vendas do mercado nacional e internacional.