Título: PT fica com Eletrosul e PMDB deve ocupar Eletrobrás e Eletronorte
Autor: Ulhôa , Raquel ; Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2007, Política, p. A7

O PT de Santa Catarina venceu a disputa com o PMDB pela presidência da Eletrosul. A confirmação de que o PT ocupará o cargo partiu do líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), logo depois da cerimônia de posse do novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Segundo Raupp, o cargo deverá ser ocupado pelo nome indicado pela líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

A divulgação aparentemente incomodou Lobão, que não confirmou a escolha, num primeiro momento. Disse que qualquer decisão teria de passar, primeiro, por uma conversa com ele. Lobão pretende definir os novos ocupantes dos cargos vagos no setor elétrico em até um mês. "Ele não participou da decisão (sobre a Eletrosul), que será levada a ele amanhã (hoje)", explicou Raupp. Na partilha dos cargos, o PMDB ficará com as presidências da Eletrobrás e da Eletronorte.

Segundo pemedebistas, a decisão de nomear um petista para a presidência da Eletrosul significa uma espécie de retribuição ao apoio dado pela líder do PT ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente do Senado, durante seu primeiro processo por quebra de decoro. O PMDB havia indicado para ocupar a presidência da Eletrosul o ex-governador Paulo Afonso Vieira, que deve ficar com uma diretoria da empresa. O nome do PT para presidir a Eletrosul, é o do ex-deputado Jorge Boeira.

Lobão, assim que foi empossado, reafirmou que seu ministério não será "porteira fechada", ou seja, os cargos não serão ocupados exclusivamente por indicados do seu partido, o PMDB. "Não terei dificuldade para lidar com representantes de outros partidos", disse.

Ele anunciou que substituirá o presidente da Eletrobrás, Valter Cardeal, por um nome a ser indicado pelo PMDB. O mais cotado é Astrogildo Quental, indicado pelo senador José Sarney (PMDB-AP), principal padrinho da nomeação de Lobão para o ministério. Outro nome cotado para o cargo, também ligado a Sarney, é o de Flávio Decatt.

A presidência da Eletronorte deverá ficar com Lívio Assim, nome indicado pelo deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). O PMDB de Minas Gerais deverá indicar o ocupante da diretoria Internacional da Petrobras. O cotado é Jorge Zelada.

O novo ministro disse ter "carta branca" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para compor sua equipe. "Vamos fazer alterações, mas só o que for necessário. Não desejo apagar a memória do ministério", afirmou.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), negou a existência de "briga" entre os partidos da base, principalmente PT e PMDB, pelos cargos no Ministério de Minas e Energia. "É legítimo que todo partido queira arranjar espaços, mas o presidente Lula saberá administrar. O PMDB vai buscar recuperar os cargos que ocupava anteriormente, mas sempre respeitando os critérios de indicar nomes técnicos", disse.

O ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) não negou o conflito entre PT e PMDB, mas disse que a palavra final é de Lula. "O árbitro para esse tipo de conflito é aquele que, quando fala, elimina qualquer tipo de rusga - o presidente da República. É natural que haja canelada. Se não houvesse, não seria governo."

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), afirmou que Lobão "terá autonomia" para fazer as nomeações. Mas ponderou que o novo ministro levará em conta que sua pasta demanda muitos técnicos. "Ele vai compor o ministério administrativa e politicamente", disse. Temer negou que haja divergências entre a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o novo ministro de Minas Energia. Dilma defendia a indicação de um nome técnico para o ministério. "Ambos pertencem ao mesmo governo. Eles vão ter que se entender", assegurou.