Título: Exportador antecipa contratação cambial
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2008, Finanças, p. C1

No dia 21 de janeiro, quando o dólar atingiu o pico do ano até agora de R$ 1,83, a Itambé vendeu dólares no mercado futuro, referentes a uma parcela das exportações de leite em pó que embarcará em janeiro e receberá o pagamento em fevereiro. "Se na época o dólar estiver a R$ 1,90, perderemos um pouco, mas como até pouco tempo a perspectiva era de dólar a R$ 1,70, preferimos fazer uma trava cambial", diz Jacques Gontijo, vice-presidente da companhia.

Assim como a cooperativa mineira, outros exportadores também aproveitaram a turbulência do mercado financeiro provocada pela crise americana para antecipar o fechamento de contratos de câmbio. Ao invés de aguardar desvalorização ainda mais expressiva do real, uma parcela das empresas vendeu moeda no mercado nos dias em que o dólar ficou ao redor de R$ 1,80.

Um operador de um grande banco privado confirma o aumento nos fluxos de contratação de câmbio recentemente em dias de desvalorização mais acentuada do real. A fonte ressalta que, no entanto, a movimentação dos exportadores é menos intensa do que a "corrida" que ocorreu em agosto de 2007, quando do dólar chegou a R$ 2,10 também impulsionado pela crise americana, e grandes volumes de câmbio foram contratados.

Conforme o Banco Central, o câmbio contratado até 15 de janeiro chegou a US$ 5,5 bilhões, US$ 800 milhões a mais que os US$ 4,7 bilhões registrados na balança comercial. Alexandre Lintz, estrategista para América Latina do banco BNP Paribas, diz que o dado surpreendeu, porque havia expectativa de queda no fluxo. Com o início da incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos adiantamentos de contratos de câmbio (ACC), especulava-se que os exportadores optariam por linhas de crédito no mercado interno.

A expectativa não está se confirmando, porque os exportadores optaram por aproveitar a desvalorização do real. Para empresas que planejavam fechar câmbio a R$ 1,75, conseguir cotação de R$ 1,85 significa um ganho nada desprezível de 5%. "Se você acredita que tudo voltará a normalidade, é hora de fechar câmbio", diz Alfredo de Goeye, sócio diretor da empresa de exportação e importação Sertrading.

Lintz diz que a tendência do real é de apreciação. "Um bom indicador é a presença do Banco Central, que continua comprando dólares e elevando as reservas", diz. O BC entra no mercado para comprar a "sobra" de dólares, ou seja, se a autoridade monetária está atuando é porque ainda existe um fluxo positivo de moeda americana. Um operador lembra que o fundamento macroeconômico também é de valorização, por conta dos diferenciais de taxas de juros, que são mais altas no Brasil e mais baixas no exterior.

Outra fonte avalia que a moeda só reagirá com mais vigor às turbulências do mercado internacional quando os preços das commodities começarem a ceder. O operador diz que o saldo comercial brasileiro está muito ligado a cotação de produtos como soja ou minério de ferro. Apesar de a Bolsa de Valores de São Paulo ter registrado queda de mais de 6% em um dia, o dólar se valorizou somente 0,56% em relação ao real desde o início do ano até sexta-feira.

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), avalia que apenas os exportadores mais capitalizados tem condições de aguardar o desenrolar da crise americana a espera de uma queda mais aguda do real. Com a mudança nas regras de internalização de câmbio, que elevou o prazo de 210 dias para um ano, os exportadores tem mais tempo para se decidir. "Hoje o exportador tem mais flexibilidade para analisar sua operação também pelo lado financeiro", diz o executivo.