Título: Fundo norueguês aproveita queda de ações para comprar
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2008, Finanças, p. C4

O fundo soberano da Noruega, com US$ 400 bilhões de capital e o terceiro maior do mundo, está comprando mais ações de empresas brasileiras, indiferente as turbulências nos mercados. Atualmente, 1% de seu portfolio em ações já é de companhias brasileiras, comparado a 0,7% no começo de 2007, podendo representar cerca de US$ 2 bilhões.

Enquanto os mercados degringolavam ontem, o gerente do Norway's Government Pension Fund (NGPF), Yngve Slyngstad dizia calmamente que pode ampliar o portfolio no Brasil cada mês, pensando no longo prazo.

"Nosso fundo tem entrada de capital de US$ 1 bilhão por semana graças aos preços altos do petróleo, e precisamos investir esse dinheiro", disse ao Valor. "E a economia brasileira pode nos dar realmente bom rendimento".

Slyngstad disse que irá a São Paulo em março, contatar administradores de fundos nacionais para se ocuparem de uma parte do capital que a Noruega destinará a ações brasileiras. Cerca de 20% das aplicações do fundo são feitas através de especialistas externos.

Segundo o executivo, o fundo detém em média 0,90% das ações das companhias brasileiras onde investe. Relatório do Banco Central norueguês mostra que seu portfolio no Brasil inclui Petrobras, Vale do Rio Doce, Braskem, Brasil Telecom, Acesita, Perdigão, Cosan, Votorantim, Bradesco, Banco do Brasil.

O fundo faz da Noruega um dos maiores investidores globais. O fundo só é menor que os de Abu Dhabi (US$ 850 bilhões) e de Cingapura (cerca de US$ 400 milhões). O dinheiro vem dos vastos recursos em petróleo no Mar do Norte. É o terceiro maior exportador, só atrás da Arábia Saudita e da Rússia. Ao contrário do suntuoso estilo de vida das petromonarquias árabes, os noruegueses aplicam o dinheiro para as gerações futuras. Depois das turbulências de julho e agosto do ano passado, o fundo deu retorno de 1,15% no terceiro trimestre. A queda das ações foi compensada pelas aplicações em bonus. Desde o inicio de 2003, as ações japonesas européias e americanas renderam 104%, 105% e 85% respectivamente. Enquanto o índice de 25 economias emergentes aumentou 308% no mesmo período.

Cerca de 30% do seu portfolio em ações tem sido investido em empresas dos EUA, quase 50% em européias e 8,7% em japonesas. Entre os emergentes, só a Coréia supera o Brasil como mercado favorito.

Os noruegueses vêm aumentando sua fatia nas principais companhias brasileiras, mas o executivo não confirma o valor exato. Certo mesmo é que não aplica ainda em títulos da dívida brasileira, optando pelos bônus das economias industrializadas.

O fundo norueguês utiliza seus escritórios em Londres e Novas York para comprar ações brasileiras nas bolsas internacionais. A possibilidade de investir diretamente na Bovespa poderá ocorrer com a contratação de administradores locais.

Slyngstad evita entrar em detalhes sobre os setores onde pretende ampliar as aquisições de ações, mas tampouco se inquieta com a degringolada atual nos mercados e efeitos da recessão americana.

Enquanto outros fundos soberanos do Oriente Médio e da Asia despertam a atenção socorrendo grandes bancos em dificuldades, os noruegueses estão revisando seus critérios de investimentos.

Na semana passada, o governo norueguês reuniu dezenas de investidores em Oslo para discutir ética nos investimentos. Na sala, estavam representantes de fortunas valendo US$ 13 trilhões, incluindo os principais bancos internacionais e representantes de outros fundos soberanos.

A Noruega está na linha de frente e decidiu excluir, por exemplo, aplicações em empresas produtoras de armas, que desrespeitem gravemente os direitos humanos e o meio ambiente. Investimentos em companhias de tabaco, pornográficas e de jogo também serão excluídas.

A ministra de Finanças, Kristin Halvorsen, disse que seu país "acredita que responsabilidade social e ambiental cria as melhores condições para retornos altos e sustentáveis a longo prazo." Ela revelou que o Banco Central norueguês tem discutido com "um grande grupo agrícola global" sobre seus esforços para por fim a trabalho infantil, mas não revelou o nome da empresa.

Nenhuma companhia brasileira está alvejada, no momento. Até hoje, só a Aracruz foi alvo de investigação, em 2006. Foi quando cinco organizações não governamentais pediram para o fundo retirasse o investimento na companhia, alegando que ela desrespeitava direitos de povos indígenas.

O comitê de ética do fundo não atendeu a demanda, estimando que o caso estava em negociação. Segundo as últimas informações, isso teria sido resolvido no ano passado. O fundo tinha 0,14% das ações da Aracruz em 2006.

Em contrapartida, o fundo retirou mais de US$ 400 milhões da Wal-Mart, também em junho de 2006 por causa de preocupações com direitos humanos e trabalho infantil. Na semana passada, também desinvestiu em três produtores de armas - Hanwha Corporation, da Coréia do Sul, a britânica Serco e a americana Gen-Corp Inc.