Título: País atrai pouco emprego terceirizado, mostra estudo
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2008, Brasil, p. A3

A DTS Latin America, empresa de consultoria em tecnologia da informação e produção de softwares para o setor financeiro, cresceu 236% em faturamento nos últimos dois anos, chegando a R$ 250 milhões em 2007. Fernando Parra, presidente da empresa, tem uma explicação simples para o crescimento da DTS, que mantém 1,2 mil consultores em oito países e recentemente foi contratada pelo BBVA para desenvolver projetos na Espanha: especialização na atividade terceirizada. "TI não é a principal atividade de um banco ou uma seguradora e hoje esses grupos buscam a melhor solução, não importa o país de origem", afirma.

A DTS segue uma tendência global, mas está na contramão do que ocorre com a maioria das empresas brasileiras. Para Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp, o Brasil está perdendo oportunidades de atrair empregos terceirizados transnacionais. Um estudo conduzido por Pochmann na Unicamp revela que, por ano, o número de postos de trabalho terceirizado cresce em 16,5 milhões, o equivalente a 36,7% do total de novas vagas geradas. Desse total, 6,7 milhões são abertas por empresas como a DTS, com atuação em vários países e especializadas em atividades comumente terceirizadas, como serviços de tecnologia da informação, call center e segurança.

Conforme Pochmann, só neste ano, essas empresas transnacionais deverão gerar 7 milhões de postos de trabalho no mundo. "Mas o Brasil não consegue atrair essas vagas de trabalho por dificuldades causadas pela legislação, falta de capacitação de empresas e de trabalhadores", afirmou. De acordo com o pesquisador, no Brasil, o total de postos terceirizados é de 7,1 milhões e, desse total, apenas 6,8% está em empresas transnacionais - o que significa que o Brasil responde por 1,14% do total de vagas ofertadas por essas empresas no mundo.

"A terceirização nacional não gera emprego, ela apenas substitui um celetista de uma empresa por um empregado em outra", criticou. Segundo Pochmann, as transnacionais operam basicamente em quatro categorias de terceirização, definidas como montadoras (vinculadas às zonas francas de exportação), empacotadoras (ligadas à distribuição de bens de consumo, apoiadoras (serviços que apóiam a atividade produtiva principal) e análise (assessoria e planejamento). "A China se especializou como montadora. A Índia, como apoiadora, e o Brasil decidiu ser a fazenda do mundo", afirmou.

Pochmann criticou a falta de políticas públicas para atrair transnacionais e citou a demora na implantação das zonas de livre comércio (ZPEs). "O país responde por 3% do emprego no mundo e tem 8 milhões de desempregados. Melhor discutir condições de emprego depois de a vaga ser aberta."