Título: Fusões e aquisições superam R$ 100 bi
Autor: Júnior , Altamiro Silva ; Balarin , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2008, Finanças, p. C6

As fusões e aquisições bateram recorde no Brasil no ano passado, movimentando US$ 57,7 bilhões, e provocaram uma disputa nunca antes vista entre os grandes bancos de investimento pela liderança do ranking dos maiores participantes do mercado. O Citibank terminou o ano em primeiro lugar, seguido bem de perto pelo Credit Suisse, segundo a Thomson Financial.

O volume movimentado em 2007 ultrapassou a marca de R$ 100 bilhões pela primeira vez e foi 1% maior que em 2006, marcado pela aquisição da mineradora Inco pela Vale, que sozinha movimentou US$ 17 bilhões. Sem esta operação, o volume de 2007 seria quase 40% maior que o de 2006.

Quatro movimentos marcaram as operações de fusões e aquisições no Brasil em 2007. Consolidação de setores importantes para a economia, como o de petroquímica e o de varejo; empresas brasileiras, como Gerdau e Votorantim, comprando companhias estrangeiras; empresas estrangeiras, como o Carrefour, adquirindo as nacionais; e fundos de private equity participando ativamente deste mercado, como a GP Investimentos, que comprou a Magnesita.

Para 2008, mesmo depois dos altos volumes de 2007, os especialistas esperam novos recordes. O Citi, por exemplo, está assessorando o governo do Estado de São Paulo na venda da geradora de energia Cesp e o governo federal na venda da Brasiliana, holding que controla a Eletropaulo. O mercado estima que só estas duas operações podem ultrapassar os R$ 25 bilhões. Além do setor elétrico, aposta-se na consolidação do setor de telefonia (onde a Oi deve adquirir a Brasil Telecom) e uma aceleração das operações no setor de consumo e varejo, graças ao maior aquecimento da economia.

Em meio a uma enxurrada de operações bilionárias, todos os bancos querem se destacar neste mercado. O ranking é dominado pelos estrangeiros. O único brasileiro é o Itaú BBA, que ficou em sexto lugar. "Uma operação de fusão e aquisição é aquela na qual não existe uma segunda chance de causar boa impressão", diz Candido Bracher, do Itaú BBA, afirmando que cada operação é única e exige dedicação máxima.

Entre os independentes, a Estater e a Pátria Investimentos são os destaques. Segundo Antônio Wever, sócio do Pátria, as receitas com estas operações por lá cresceram 100% nos últimos três anos. O banco tem equipe de nove profissionais, dos quais três são sócios e se dedicam desde a originação até os acertos finais.

O Citi participou de seis das 12 operações que movimentaram mais de US$ 1 bilhão em 2007 e subiu da 15ª posição em 2005 para a sexta em 2006 e a primeira em 2007. Ricardo Lacerda, presidente do banco de investimento do Citi, foi o responsável pelo sucesso. Vindo do Goldman Sachs, que era o líder até então, levou sua equipe para o banco americano, que hoje conta com 30 profissionais só no Brasil para a área. "A economia brasileira, crescendo de forma mais acelerada, aumenta a necessidade de consolidação em alguns setores", avalia Lacerda, que prevê ritmo forte de operações este ano.

Colado ao Citi (com 29,5% do mercado), está o Credit Suisse, com 29,4% e o líder de 2006. José Olympio, o responsável pelo banco de investimento do CS, avalia que o mais relevante neste mercado é a criatividade na hora de fazer as operações e o valor gerado aos acionistas. Como exemplo, Olympio cita a compra da Magnesita pelo GP, com preço cinco vezes mais alto que a cotação do papel na bolsa. "Nunca começamos um ano com o nível de atividade como estamos vendo agora", diz.

Na terceira posição, aparece o ABN AMRO. Para João Teixeira, responsável pela área no ABN, o mais importante foi o banco ter conseguido fazer uma série de operações relevantes em um ano de grande incerteza sobre o futuro do banco, que acabou sendo comprado pelo Santander.

Nos bastidores, comenta-se que a disputa entre Citi e CS é acirrada como nunca. A venda da mineradora J. Mendes, de Minas Gerais, foi um dos alvos da disputa entre os dois bancos. O Citi assessorava a BHP, potencial compradora, e o suíço foi contratado pela vendedora. Em dezembro, o CS apertou o ritmo das negociações, na expectativa de que a operação - que pode chegar a US$ 1,8 bilhão - pudesse ser fechada antes do fim do ano. Mas o negócio acabou ficando fora do ranking e ainda não foi concluído. A Usiminas, atualmente, tem a exclusividade na negociação de compra da J. Mendes.

O Credit Suisse teria aceitado fazer um laudo para a Ipiranga - que foi adquirida pelos grupos Ultra, Petrobras e Braskem - por um valor bastante abaixo do preço normal. O laudo não era necessário para a operação porque o grupo comprador já havia se baseado em um laudo feito pelo Deutsche Bank. Mas em função do preço apresentado pelo CS e pelo reforço que seria dado à operação de troca de ações, o CS foi contratado. Com isso, o suíço pôde incluir a operação em sua contabilidade. (Colaborou Cristiane Perini Lucchesi)