Título: O temor do PT com os insurgentes
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 01/02/2011, Política, p. 3

Nas últimas 24 horas antes da eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, o Palácio do Planalto reforçou a campanha do candidato governista, Marco Maia (PT-RS), para conter dissidências de última hora. O maior temor era por uma reação desencadeada por setores do PMDB rumo à candidatura avulsa de Sandro Mabel (PR-GO), pois a legenda aliada permanece descontente com as nomeações no segundo escalão e o provável corte nas emendas parlamentares. Mesmo pressionado pelo próprio partido a desistir da empreitada, Mabel insistiu que vai disputar o cargo.

Com o suporte do Planalto, Maia ampliou as promessas no último dia de campanha. O petista avaliou que o último risco a sua candidatura estava em setores descontentes do PMDB. Os peemedebistas estavam particularmente irritados com a notícia de que a equipe econômica pretendia abrir uma folga no orçamento de 2011 cancelando várias emendas parlamentares que, embora tenham sido empenhadas, ainda não foram iniciadas.

Diante da ameaça de perderem os investimentos já sugeridos ao orçamento, os parlamentares peemedebistas decidiram lavar a roupa suja em público ontem e mandaram vários recados ao governo. Durante a reunião para escolha do líder e dos indicados pelo partido para a Mesa Diretora da Câmara, o Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), reconduzido à liderança da sigla na Casa, repetiu as críticas ao apetite do PT por cargos no segundo escalão do governo. ¿Não ganhamos a eleição para levar tapinha nas costas e cantar o Hino Nacional, mas para governar. Queremos ser cobrados nas ruas¿, disse Alves.

O peemedebista ainda tentou livrar o partido das críticas de fisiologismo, especialmente por conta da disputa pelo controle da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Ele garantiu que a legenda só ocupava dois cargos dos 1.692 disponíveis no Ministério da Saúde, entre eles a Secretaria de Atenção à Saúde, que passou para as mãos dos petistas. Por isso, o deputado aumentou o tom do discurso contra a troca. ¿Não sou aliado incômodo, sou governo¿, lembrou Alves. Vários deputados peemedebistas seguiram a linha do discurso do líder e demonstraram irritação com o Planalto e com o PT. ¿Já disseram que o PT era o partido da boquinha, mas não. O PT, como estamos vendo, é o partido da bocona¿, disparou o deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT).

Diante do clima de insurreição, tanto Mabel quanto Maia acabaram indo pedir votos aos peemedebistas, e utilizaram a questão da liberação das emendas parlamentares como tônica do discurso de campanha. O deputado goiano disse que enviou carta à presidente Dilma Rousseff, cobrando a liberação dos recursos. Ainda voltou a prometer a construção do Anexo 5 da Câmara. Alves acabou interrompendo o discurso do colega, reiterando que ele e o partido já estavam fechados com Maia. O candidato avulso apelou então para os filhos. ¿Meus filhos me ligaram no fim de semana e falaram que eu podia tomar qualquer decisão, desde que não fosse voltar para casa como um covarde. Então, vou disputar esta eleição amanhã (hoje) a qualquer custo¿, prometeu Mabel.

Ataque O segundo a falar para os parlamentares peemedebistas foi Maia, que preferiu atacar o adversário. Autorizado pelo Planalto, o candidato governista informou que o problema das emendas será resolvido. ¿Trataremos o tema das emendas de forma dialogada e impositiva. Independência não é ficar mandando cartinha. Estamos avançando nesse assunto¿, discursou Maia.

O petista ainda criticou o que chama de ¿propostas administrativas¿ no debate pela Presidência da Câmara. ¿Precisamos diferenciar a discussão política da administrativa. Construir um novo anexo é questão interna, administrativa, não deve ser plataforma de campanha de ninguém¿, alfinetou. O favorito do Planalto ainda lembrou ao PMDB que o acordo fechado entre os dois partidos prevê um presidente peemedebista, apoiado pelo PT, daqui a dois anos.

Rival No Senado, o governista José Sarney (PMDB-AP) tem caminho aberto para a reeleição à Presidência da Casa. Seu único adversário é o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), o mais jovem eleito no país, com 38 anos. A candidatura avulsa foi anunciada ontem como alternativa a Sarney. ¿O Senado precisa de um pacote de mudanças éticas. Precisamos fazer uma autocrítica desses últimos anos¿, ressaltou. Em campanha, Sarney adiantou que vê com bons olhos a disputa. ¿É um direito que têm os partidos e nós não podemos interferir na vontade das legenda¿, comentou o atual presidente da Casa.

Mabel na berlinda

Josie Jeronimo

A cúpula do PR esperou a véspera da eleição para a Presidência da Câmara para adotar manobra drástica contra a candidatura de Sandro Mabel (PR-GO). Pressionado pelo PT, que queimou fichas para costurar a candidatura única de Marco Maia (PT-RS), o PR teve que dar um ultimato a Mabel para dissociar a imagem da sigla do projeto político do deputado de Goiás. No fim da tarde de ontem, o presidente do PR, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, condicionou a permanência de Mabel na legenda à desistência da candidatura.

Nascimento afirmou que, se o líder do PR apresentar seu nome hoje, a sigla abrirá processo administrativo pedindo a expulsão do parlamentar. ¿Nós fechamos questão em torno da candidatura de Marco Maia. Nossos deputados estão orientados a votar no Marco Maia. Vamos entrar na Justiça pedindo a expulsão para que o suplente possa assumir¿, ameaçou.

Alfredo Nascimento negou, no entanto, que a reação da legenda tenha sido motivada por pressão do Executivo, mas admitiu que a rebeldia de Mabel ao lançar candidatura para enfrentar o candidato apoiado pela presidente Dilma Rousseff causou constrangimento ao partido, que faz parte da base do governo. ¿Ele não é mais bem visto no partido. O desconforto foi para todos nós.¿

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, afirmou que Mabel, na condição de líder do PR, já estava ¿desautorizado¿ a partir para uma candidatura avulsa. ¿O ideal seria que não tivesse acontecido (a ameaça de expulsão). Na prática, ele está isolado dentro do PR.¿

A executiva do PR anunciou que, mesmo se Mabel ganhar a disputa pela Presidência da Câmara, a sigla manterá a decisão de iniciar o processo de expulsão. Mas se o parlamentar desistir do confronto, nenhuma medida administrativa será aberta. ¿Tomara que ele tenha juízo¿, finalizou Nascimento.