Título: Custo de mão-de-obra sobe mais que produtividade
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2008, Especial, p. A12

A alta dos preços dos materiais de construção, como o cimento, tem ganhado maior visibilidade na inflação da construção civil, mas na verdade o item que sofreu maior pressão foi o custo da mão-de-obra. O Índice Nacional da Construção Civil - Disponibilidade Interna (INCC-DI) avançou 6,15% em 2007, dos quais 6,02% no grupo materiais e serviços e 6,29% no item mão-de-obra.

Os salários subiram quase dois pontos percentuais acima do indicador básico do custo de vida, o IPCA, que registrou inflação de 4,46% em 2007. O que chama a atenção, porém, é o aumento do custo de mão-de-obra no fim de ano. Categorias com data-base em novembro, como os trabalhadores da construção civil de Minas Gerais e Maranhão, tiveram reajustes de 10% ou mais.

O avanço salariais acima da inflação é um dos pontos de preocupação do Banco Central. Na ótica do BC, aumentos acima da inflação só deveriam ocorrer se amparados por ganhos de produtividade. Caso contrário, são sinal de demanda excessivamente aquecida.

O Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais assinou com os trabalhadores do Estado acordos que prevêem reajustes de 9,8% no piso da maior parte dos trabalhadores, bem acima da média histórica, que era reajuste equivalente ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mais 2%. A inflação medida pelo INPC em 2007 foi de 5,16%.

"O preço da mão-de-obra estava defasado em relação aos valores pagos em São Paulo e Rio de Janeiro", explica o vice-presidente de relações trabalhistas do Sinduscon-MG, Ricardo Catão Ribeiro. "Como a procura por mão-de-obra em outros Estados também é forte, Minas Gerais estava perdendo trabalhadores."

Mesmo com o aumento, um pedreiro em Minas Gerais tem um piso mais baixo (R$ 3,26 por hora) do que São Paulo (R$ 3,57) e o Rio de Janeiro (3,76). "Agora, os salários ficaram mais competitivos, considerando que o custo de vida em Minas é menor."

Ribeiro diz que a recomposição dos salários não foi amparada por aumentos de produtividade e, portanto, representará um custo maior de produção para as construtoras. "Os custos serão repassados para os preços finais", afirma.

A indústria da construção civil de Minas Gerais está sofrendo acirrada competição de empresas que, depois de abrir o capital na Bolsa de Valores, entraram com apetite no mercado. Mas ele não acha que isso vá inviabilizar o repasse do aumento de custo. "A gente está vendo, depois de muitos anos, uma melhoria no mercado. A procura por imóveis é muito grande", afirma. "Os juros dos financiamentos estão caindo, compensando o aumento do custo de mão-de-obra."

No Maranhão, o aumento dos salários para profissionais um pouco mais qualificados chega a 12%. Mas o reajuste mais expressivo foi o dos serventes de pedreiro, cujo piso avançou 16,4%.

O presidente do Sinduscon-MA, João Alberto Teixeira Mota Filho, explica que no caso houve uma pressão decorrente do reajuste do salário mínimo. O piso anterior, de R$ 1,73 por hora, equivalia a um salário mínimo por mês, e o piso atual acompanha o reajuste anunciado pelo governo, elevando o piso da categoria para R$ 407,00. (AR)