Título: Obama empolga público; críticos vêem discurso vazio
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2008, Internacional, p. A9

Olayiwola Eidris, 69, um tradutor aposentado que se mudou da Nigéria para os Estados Unidos quando o senador Barack Obama ainda era criança e que se naturalizou americano há duas décadas, viajou nas últimas semanas por sete Estados diferentes só para ver de perto o pré-candidato democrata. "Obama é o único capaz de unir este país", disse Eidris ao Valor.

No último sábado, Angela Bruce-Heath, uma dona-de-casa de 40 anos, bateu de porta em porta para pedir aos vizinhos que votassem em Obama. Ela calcula que tenha visitado cem eleitores. Na segunda-feira, Angela juntou-se a milhares de pessoas que foram ouvir o candidato num comício, num ginásio universitário no Estado de Maryland. "Ele sabe aproximar as pessoas", afirmou.

Latonya Groom, 43, uma consultora de empresas que nunca tinha participado de um comício político antes, tirou uma folga do trabalho na segunda-feira e foi com o filho de 8 anos ouvir Obama. "Ele me faz acreditar que é possível mudar as coisas que estão erradas no país", disse Latonya, que esperou mais de três horas para ver o candidato.

Na corrida à Casa Branca, nenhum candidato desperta a empolgação que se vê ao redor de Obama. Pode ser que essa excitação toda não seja suficiente para o senador vencer a batalha que trava com a ex-primeira-dama Hillary Clinton pelo candidatura do Partido Democrata. Mas ela se revelou uma alavanca poderosa para Obama conseguir o dinheiro e os votos de que necessita para enfrentar a adversária.

A campanha de Obama tem arrecadado cerca de US$ 1 milhão por dia, mais ou menos o dobro do que Hillary tem conseguido. Nesta semana, ele deve passar à frente da ex-primeira-dama na corrida para acumular o número de delegados necessário para ganhar a convenção nacional dos democratas em agosto, quando será definido o candidato que disputará a eleição presidencial de novembro.

Os democratas voltaram às urnas ontem para votar nas eleições primárias de Maryland, da Virgínia e da capital federal, Washington, lugares em que as pesquisas mais recentes previram que Obama teria uma vantagem significativa sobre Hillary. A contagem dos votos só deveria ser concluída na madrugada de hoje, pelo horário brasileiro.

Obama tem atraído multidões cada vez mais impressionantes para seus comícios, espetáculos eletrizantes que são coreografados com profissionalismo e atenção para os detalhes, da escolha da trilha sonora à triagem que os voluntários da campanha fazem para impedir que cartazes com dizeres embaraçosos apareçam nas imagens do evento.

Obama repete essencialmente o mesmo discurso, uma peça de oratória arrebatadora e carregada de poesia que ele escreveu com a ajuda de um assessor de 26 anos, Jon Favreau. Nas últimas semanas, ele acrescentou passagens em que sua trajetória política é descrita com hipérboles cada vez mais audaciosas.

Quando ganhou as prévias de Iowa, o Estado onde a temporada eleitoral teve início em janeiro, Obama disse que a vitória representava "um momento definidor" na história. Há uma semana, ele disse que as vitórias mais recentes transformaram sua campanha num "coro de milhões pedindo mudança, um coro que não pode ser ignorado, um coro que não pode ser detido".

"Somos a esperança do futuro, a resposta aos cínicos que nos dizem que nossa casa deve permanecer dividida, que não podemos nos unir, que não podemos refazer este mundo como ele deveria ser", afirmou Obama na semana passada, ao comemorar as vitórias que alcançou nos mais de vinte Estados que votaram na chamada "superterça".

Os eleitores de Hillary costumam torcer o nariz para o palavrório de Obama. Em geral, eles acham a conversa do candidato muito bonita, mas acreditam que ela tem pouca substância. Obama tem falado mais sobre seus planos para a economia, a saúde e a educação, mas ele nunca desperdiça muito tempo com os detalhes nos comícios.

Tem funcionado até aqui. Exibidas diariamente na TV e reproduzidas em vídeos que a campanha e seus simpatizantes distribuem pela internet, as imagens que registram a empolgação nos comícios de Obama geram dúvidas sobre a capacidade de Hillary de detê-lo, e fazem balançar os eleitores, os líderes partidários e os doadores que financiam as campanhas.

A animação também tem atraído para o processo eleitoral gente que nunca havia participado da política. Pesquisas de boca-de-urna indicam que 57% dos eleitores que compareceram às assembléias democratas em Iowa votaram pela primeira vez naquele dia. Na Carolina do Sul, onde Obama obteve outra vitória importante duas semanas atrás, 27% dos eleitores nunca tinham votado. A maioria dessas pessoas votou em Obama.