Título: Além do horizonte
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2008, Investimentos, p. D1

Neste momento de sobe-e-desce frenético da bolsa de valores, corretoras e profissionais do mercado recomendam que se evite movimentações agressivas no curto prazo, mas indicam calma ou até motivam novas aplicações aos pequenos investidores que miram um futuro mais distante. Para o longo prazo, as perspectivas para as ações ainda são boas, dizem. Em períodos acima de um ano, apesar das incertezas da economia nacional e internacional, a maioria dos economistas das corretoras ainda aponta retornos mais favoráveis às ações do que a outras alternativas do mercado. No entanto, aplicar em bolsa nesses prazos maiores exige cuidado redobrado na escolha dos papéis, que num período mais longo são muito mais movidos pelos fundamentos das empresas do que pela conjuntura. Com essa perspectiva o Valor lança hoje a Carteira Valor Longo Prazo, que traz recomendações de empresas para se investir por anos.

Diferentemente da carteira tradicional, revista mensalmente e com indicações que visam aproveitar movimentos mais curtos, esta nova será revista apenas de ano em ano. Em moldes parecidos com a Carteira Valor antiga, que continuará a ser publicada normalmente, a seleção de ações de longo prazo será formada pelas dez mais indicadas (ou com maior liquidez, quando houver empate) inicialmente por oito corretoras do mercado. Cada instituição indicará cinco recomendações, que não poderão ser alteradas durante o ano.

Nesta primeira rodada, predominaram entre as mais indicadas as "blue chips" do mercado. A Petrobras PN é apontada por sete das oito corretoras como opção interessante para o longo prazo. Outras cinco indicam a Vale PNA. A Usiminas PNA tem três recomendações e todas as 21 ações demais citadas têm apenas uma ou duas indicações. "O compromisso de ficar um ano com o mesmo papel é complicado, por isso as indicações de empresas mais sólidas", comenta Fabio Anderaos de Araújo, estrategista da corretora do Itaú.

O aplicador menos experiente não deve se arriscar a operar o mercado em prazos curtos, principalmente neste momento de mais vaivém, comenta Anderaos. Para o aplicador que aderir à estratégia de longo prazo, uma boa vantagem é correr menos riscos por conta de oscilações de mercado e pressões passageiras que levem os papéis para cima ou para baixo. "No longo prazo, o fator volatilidade é eliminado", diz Eduardo Kondo, da Concórdia Corretora, explicando que o momento de comprar ou vender a ação perde importância.

A Carteira Valor Longo Prazo foi criada a partir de sugestões de investidores e participantes da carteira tradicional. Desde que foi criada, em janeiro de 2001, a Carteira Valor tradicional apresenta alta de 1.050%, variação muitas vezes acima da alta do Índice Bovespa no período, de 277%. A Carteira Valor Dividendos, que compreende a indicação das empresas menos arriscas e boas distribuidoras de lucros aos acionistas, foi criada em abril de 2006 e tem alta de 25,31% desde então ante uma valorização de 44,58% do Ibovespa.

Todas as corretoras participantes da Carteira Valor Longo Prazo fazem parte da mensal e fizeram mudanças na hora de compor cada um dos portfólios. Em geral, trocou-se papéis mais especulativos, que tendem a ganhar com eventos de curto prazo, por ações de companhias cujos investimentos levarão mais tempo até atingir sua maturação e, portanto, demorar mais para refletir esses projetos no preço das ações. A Concórdia, por exemplo, manteve Vale e Petrobras, mas trocou Eletropaulo PNB, TAM PN e Nossa Caixa ON, presentes na Carteira Valor mensal, por Aracruz PNB, Tractebel ON e Usiminas PNA. "Não olhamos tanto para o preço, mas para os investimentos anunciados e para a competitividade das empresas", explica Kondo.

Petrobras e Vale são figurinhas carimbadas não apenas porque têm grande peso no Ibovespa e garante certa proximidade das carteiras com o indicador. São empresas com investimentos de dezenas de milhões de dólares programados, diz Kondo. "São companhias sólidas com taxas de crescimento de empresas menores."

Pelo caráter mais defensivo e estável, o setor financeiro também marca presença na nova carteira. Têm duas indicações cada e espaço garantido na nova carteira Bradesco PN e Itaúsa PN, holding controladora do banco Itaú.

É preciso ter extrema confiança nas empresas para se aplicar por períodos de anos, comenta Celso Boin Júnior, da área de pesquisa da Link Investimentos. "No longo prazo, o mercado avaliará com mais precisão o valor real das empresas." Apesar da majoritária preferência pelas vedetes do mercado, as corretoras não deixam de apresentar suas apostas entre as empresas menores e até mesmo novatas.

A Carteira Valor Longo Prazo representa a aplicação de um investidor que não tenha o objetivo de mexer na aplicação mensalmente, tentando adaptá-la às mudanças do mercado. Vale destacar que, ao comprar e vender menos os papéis, o investidor economiza com taxas de corretagem e outros custos. Embora a seleção considere uma carteira estática no prazo de um ano, o aplicador que a tomar como parâmetro deve ter a consciência de que poderá ou até deverá mexer em seus papéis, se novos fatores abalarem certas projeções macroeconômicas e setoriais que são premissas para as indicações.