Título: Superavit fecha em 2,78% do PIB
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 01/02/2011, Economia, p. 14

Mesmo com todas as manobras fiscais usadas em 2010, pelo segundo ano consecutivo, a meta de superavit primário (economia para pagar os juros da dívida) estipulada em 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) não foi alcançada. Para dizer que fez tudo como deveria, o governo recorreu a uma ferramenta da época em que o Brasil participava de programas do Fundo Monetário Internacional (FMI): abateu parte do que investiu com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, ao menos no papel, fechou a conta. Na prática, o país fez um superavit de R$ 101,6 bilhões, o equivalente a 2,78% do PIB.

Não fosse a operação de capitalização da Petrobras no ano passado, a economia do governo teria ficado, pelo cálculo do mercado, em cerca de 1,80% do PIB. ¿A operação da Petrobras inflou bastante o superavit, mas em dezembro nós vimos um certo esforço do governo para conter os gastos.

Só não dá para dizer se foi uma sinalização para o que vai ocorrer em 2011¿, avaliou Constantin Jancso, economista sênior do HSBC.

Na avaliação de Fernanda Camino, economista da XP Investimentos, há possibilidade sim de cortar gastos sem muitas dificuldades. Mauricio Oreng, economista do Itaú Unibanco, é mais cauteloso. Para ele, são necessários mais dados para se confirmar uma tendência de ajuste fiscal. ¿Há os primeiros sinais parciais favoráveis a uma possível redução da velocidade do gasto no início de 2011. Isto se materializa, por exemplo, no bloqueio preventivo parte da verba ministerial até a aprovação do orçamento¿, disse.

Altamir Lopes, chefe do departamento econômico do BC, avaliou como positivo o desempenho de 2010 e os dados divulgados ontem pela autoridade monetária. ¿O resultado ficou 0,32 ponto percentual abaixo da meta, mas ele é um bom desempenho quando se observa o andamento da dívida¿, defendeu. Lopes ainda fez projeções para 2011. A divida líquida, pelas expectativas dele, deve passar de 40,4% do PIB em 2010 para 37,8% neste ano. A bruta ficaria estável em 55%. O deficit nominal passaria dos atuais 2,56% para 1,76 e os juros cairiam de 5,34% para 4,8%.

A dívida bruta, que inclui as contas dos governos municipais e estaduais, desacelerou de 62% do PIB em 2009 para 55% no ano passado. O desempenho da economia brasileira também colaborou para o resultado, já que o país cresceu aproximadamente 7,5% (estimados). O montante total da dívida elevou-se 2,2% entre 2009 e 2010, passou de R$ 1,861 trilhão para R$ 1,902 trilhão. As despesas com juros em função dessa conta, porém, chegaram ao maior nível (R$ 195,3 bilhões).

Deficit do INSS recua » Os mais de 2,5 milhões de empregos criados no ano passado não só trouxeram mais renda aos trabalhadores, como também ajudaram a reduzir o deficit da Previdência Social. O rombo em 2010 foi 4,5% menor do que no ano anterior (descontada a inflação) e somou R$ 44,3 bilhões. O secretário de Políticas de Previdência Social, Leonardo Rolim, afirmou que o desempenho está diretamente relacionado com o aquecimento do mercado de trabalho. ¿Tem a ver com o aumento de postos de trabalho, mas também com a melhora do rendimento dos empregados¿, disse. Para 2011, a previsão do Ministério da Previdência Social é de um deficit de cerca de R$ 41 bilhões