Título: Crise não chegará ao Brasil, afirma presidente
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2008, Brasil, p. A4

A crise não chegará ao Brasil, e o país pode repetir, este ano, o crescimento da economia e dos investimentos de 2007, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse acreditar que o país não será afetado pela desaceleração da economia dos Estados Unidos devido a diversificação das exportações, ao fortalecimento do mercado interno e ao dinamismo de economias como a China e Índia.

"Se fizermos a lição de casa direitinho, sem nenhum rompante, não inventarmos nenhuma mágica, ficar fazendo nossa politicazinha de feijão com arroz, uma farofinha, uma pimentinha, a gente vai perceber que vai crescer mais saudável", disse Lula, ao defender que a economia brasileira "não vai ter nenhum desarranjo".

Bem-humorado, sorridente, logo após um almoço com o presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, com quem tratou de programas de cooperação entre os dois países, Lula afirmou que o governo prepara a economia brasileira para "um ano vigoroso" em 2009. "Acredito piamente que teremos em 2008 uma repetição do que tivemos em 2007: crescimento vigoroso, mais crédito, mais investimento produtivo, mais investimentos estrangeiros."

Para superar a crise desencadeada com os problemas no mercado imobiliário americano, basta às autoridades brasileiras acompanhar os desdobramentos "com muito carinho", afirmou o presidente. "Nada de descuidar, de achar que tudo está resolvido". Otimista, Lula disse acreditar até na possibilidade de um acordo na rodada de liberalização comercial na Organização Mundial do Comércio (OMC), conhecida como Rodada Doha. "Estamos mais próximos de um acordo do que tivemos em qualquer momento."

Lula reconheceu que o ano eleitoral nos Estados Unidos é um obstáculo ao acordo, por dificultar o compromissos por parte do governo que sai. Apesar disso, o interesse dos governos em um acordo pode torná-lo possível, argumentou, sem se referir à forte oposição aos termos das negociações comerciais de Bush por parte dos democratas, os favoritos na disputa pela sucessão nos Estados Unidos.

À noite, durante cerimônia realizada em São Paulo, Lula comemorou a queda do índice de homicídios no país, divulgado na terça-feira no Mapa da Violência. O presidente associou a redução da violência à melhora no cenário econômico brasileiro. Segundo Lula, essa melhora veio depois de a população ver a economia definhar por 30 anos. "As pessoas estão tendo mais perspectiva de emprego e de voltar a estudar", afirmou.

Segundo Lula, "durante muito tempo houve um processo de degradação da estrutura da sociedade brasileira. Isso não vai ser resolvido em curto espaço de tempo. Vai levar alguns anos para devolver o sacrifício que o povo fez durante duas décadas e meia". (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)