Título: Consumo de álcool cresce e sobra mais gasolina para exportação
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2008, Brasil, p. A11

Anna Carolina Negri / Valor Plínio Nastari, da Datagro: avanço do álcool no mercado interno contribui para os resultados da balança comercial O Brasil deve voltar a consumir mais álcool combustível do que gasolina a partir de 2012. O avanço do álcool nas bombas reflete as vendas expressivas de carros "flex" no país e a melhor relação de preços do combustível sobre a gasolina. A expectativa é que a gasolina excedente seja exportada. Para isso, a Petrobras já investe pesado na melhoria da qualidade desse combustível.

O consumo de álcool representa atualmente 43% do total do combustível usado pela frota de veículos do país, diz Plínio Nastari, presidente da consultoria sucroalcooleira Datagro. Para 2012, a estimativa é que ultrapasse 50%. "Em 1988, durante o programa Proálcool, o consumo de álcool chegou a 57% do total", afirma Nastari.

Para a Petrobras, o aumento do consumo do álcool combustível é totalmente factível, uma vez que as vendas de carros "flex fuel" cresceram entre 40% e 50% nos últimos três anos . "Mas a expansão do consumo do álcool vai depender dos preços [na paridade com a gasolina] e também da demanda por etanol no mercado externo", afirma fonte da estatal.

Com o avanço do consumo de álcool, a estatal projeta aumento das exportações de gasolina, segundo a mesma fonte. A companhia exporta de 250 milhões a 300 milhões de litros de gasolina por mês para países da América do Sul, América Central e África. Mas a Petrobras está de olho nos mercados dos países desenvolvidos. "A Petrobras está investindo para melhorar a qualidade da gasolina. Com isso, poderá exportar para outros mercados e a preços mais atraentes", afirma a fonte.

A estatal investe em unidades de hidrodessulfurização, que permitem reduzir o teor de enxofre da gasolina. O objetivo é passar das atuais mil partículas por milhão (PPM) para 50 PPM nos próximos dois anos. Esses aportes estão estimados em cerca de US$ 3 bilhões. "Com uma gasolina de melhor qualidade, o Brasil pode conseguir preços até 30% maiores com o produto exportado", afirma a fonte.

Segundo Nastari, os Estados Unidos são clientes em potencial, porque têm déficit de capacidade de refino de gasolina de alta qualidade. "Não que eles não tenham recursos para investir no refino. Os americanos têm dificuldade para liberar licenças ambientais para tocar esses investimentos", disse.

O cenário atual de preços favorece o mercado de álcool. Atualmente, as cotações do litro do álcool na maioria dos Estados do país estão abaixo de 70% do litro da gasolina nas bombas. Essa relação é levada em consideração para avaliar se vale a pena abastecer com álcool ou gasolina. Abaixo de 70% do litro da gasolina, o álcool sai em vantagem. A expectativa é que os preços do álcool continuem atraentes para os consumidores nos próximos anos, uma vez que a oferta do produto deve continuar crescendo por conta dos novos projetos de usinas no país.

No ano passado, mais de 50% dos proprietários de carros "flex" optaram pelo uso do álcool, afirma Antonio de Padua Rodrigues, diretor da União da Indústria Canavieira (Unica). A frota de veículos "flex fuel" no país soma cerca de 4,5 milhões de veículos de um total de 21 milhões em circulação.

Antes concentrado no Estado de São Paulo, o consumo de álcool combustível está ultrapassando as fronteiras do Estado, maior produtor de álcool e consumidor de carros que podem utilizar os dois combustíveis. "As vendas de carros 'flex' não se concentraram apenas em São Paulo. As vendas aumentaram expressivamente em outros Estados sem tradição na produção de álcool", diz Padua.

Dados da Datagro consideram que o avanço do álcool combustível no mercado interno contribui indiretamente para os resultados da balança comercial. A receita com exportações de açúcar e álcool chegou a R$ 6,57 bilhões em 2007, queda de 15,4% sobre o ano anterior, de US$ 7,77 bilhões. O resultado reflete os menores preços da commodity no mercado internacional. Em volume, os embarques de açúcar somaram 19,36 milhões de toneladas em 2007, 2,6% acima de 2006. Os de álcool subiram 2,3%, para 3,51 bilhões de litros. A participação do setor sucroalcooleiro na balança comercial seria maior, se fosse considerado o total da gasolina substituída pelo álcool no mercado interno. "Será que o país seria auto-suficiente em gasolina, se não utilizasse álcool?", questiona Nastari.

Segundo a Datagro, o álcool combustível substitui volumes expressivos de gasolina automotiva. "Se o Brasil não consumisse álcool, não seria auto-suficiente em gasolina", disse Nastari. A consultoria calcula que o volume de gasolina substituída pelo álcool foi de 10,54 bilhões de litros, em 2006, e de 13,18 bilhões de litros em 2007, o que representa uma economia de US$ 6,94 bilhões.